sexta-feira, 1 de novembro de 2013

No Rio que não é de ficção, policial e criança morrem em tentativa de resgate de presos

Nem as celebridades globais comparecem ao ato que elas mesmas convocaram! 

Por Reinaldo Azevedo
Ele não foi.
Wagner Moura
Ele não foi.
Marcos Palmeira
Ela também não foi.
mariana Ximenes

Parece piada, mas é verdade. Vocês se lembram do vídeo gravado por algumas celebridades globais convocando um protesto para esta quinta-feira, certo? Falavam, cheios de moral e indignação, Wagner Moura, Leandra Leal, Marcos Palmeira e Mariana Ximenes, entre outros. Também o juiz “para a democracia” João Damasceno participou da convocação.

Apareceram umas 500 pessoas, muitas delas com a cara mascarada. O ato era em favor do direito de protestar, como se isso fosse proibido. Os bacanas pediam ainda:

- fim das prisões políticas (não há presos políticos no Brasil);
- desmilitarização da PM (eles não têm a menor ideia do que isso significa);
- fim da pacificação armada (querem que arma seja monopólio de bandido?);
- democratização dos meios de comunicação (isso sempre quer dizer censura e controle, como na Argentina).
Em todo caso, esse último item da pauta poderia ter sido enviado na forma de um abaixo-assinado para a direção da Globo, não? O grupo é grande. Se for “democratizado” — e isto é uma ironia —, já será um pedação de democracia, não? Eis uma passeata que eles poderiam ter liderado dentro do Projac…
O mais impressionante é que os próprios bacanas não compareceram. Leio na Folha que, dos que estrelam o vídeo, apenas os atores Luiz Henrique Nogueira e Tereza Seiblitz e o poeta Chacal acompanharam a marcha. O Globo informa que Leandra também foi. Entendo: Moura, Ximenes e Palmeira são pensadores. Podem dispensar a ação propriamente. Vai que os black blocs comecem a pedir autógrafos… Imaginem o constrangimento que é isso num momento de eclosão revolucionária.
Mortes
Há o Rio que não tem progressismo com vista para o mar. Há o Rio que está fora do reino da fantasia do Projac. Há, em suma, o Rio da vida real. Enquanto os bacanas botavam pra fora o seu “je ne sais quoi”, uma criança de oito anos, Kayo da Silva Costa, e um policial militar morriam numa ação orquestrada por bandidos para invadir o fórum do Tribunal de Justiça em Bangu. Eles tentavam resgatar Alexandre Bandeira de Melo, chefe do tráfico no Morro do 18, que prestaria depoimento como testemunha em um processo sobre tráfico. Vejam aí a fato de Jadson Marques, da Agência Globo, que exibe um corpo estendido no chão.
Tiroteio Bangu Jadson Marques - Aência O Globo
O menino tinha oito anos e estava indo treinar futebol de salão do Bangu Atlético Clube. Foi atingido por uma bala e morreu.
Na segunda-feira, os pais de Kayo (foto) não vão quebrar nada. Isso é privilégio que não podem se conceder.
Kayo - menino assassinado

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