sexta-feira, 17 de janeiro de 2014
COMO DISTRAIR O POVO DOS FATOS GRAVÍSSIMOS QUE ACONTECEM NO PAÍS
Sempre que houver uma dificuldade aparecendo no horizonte, faça como a presidente Dilma: chame o ministro Gilberto Carvalho. Ele não vai resolver o problema, claro, mas com certeza vai complicar aquilo que parece simples.
Gilberto Carvalho é um homem de fé, e a primeira crença dele é em Gilberto Carvalho. Desde os tempos de Celso Daniel, ele, como Batman, gosta de sobrevoar trevas.
Mas ele não está sozinho no embate. Ao lado dele, a solerte ministra da Igualdade Racial, Luiza Barros, que vê nos rolezinhos do shopping uma manifestação contra a discriminação racial.
Lucas Lima, o garoto de 17 anos que foi entrevistado pela Folha nesta semana, e que organizou o rolezinho de Itaquera no sábado anterior, contou que tudo começou com encontro de garotos e garotas marcados via redes sociais e que ele estava satisfeito porque conseguiu “beijar 16 ou 17 garotas”.
Com uma lata de gasolina na mão, Gilberto Carvalho acusou a polícia de jogar gasolina na fogueira no mesmo instante em que o secretário da Segurança de São Paulo dizia que a polícia não tem nada com isso, mesmo porque os shoppings são espaços privados de utilização pública e a segurança interna é de responsabilidade de seus administradores.
Gilberto Carvalho, ministro-chefe da Secretaria-Geral da Presidência
Mas é difícil viver sem uma bandeira a desfraldar . Como dormir sem uma causa para acalentar o sono? Como acordar sem achar que há alguma engenharia social a fazer para tornar o mundo melhor?
Enquanto o rolezinho não rolar como uma bola de neve e não houver um policial desatinado pronto a criar uma vítima, o agito não cessa. Enquanto a farra adolescente não virar um movimento social e não fornecer toneladas de teses à intelligentsia ociosa das universidades ou dos jornais ou dos partidos brasileiros, alguém não vai sossegar.
Nas redes sociais, que se tornaram o mais divertido rolezinho de sandices que a avalanche de modernidade tecnológica foi capaz de criar, houve quem escrevesse - a sério - que as correrias desgovernadas dos jovens que querem beijar as meninas eram um protesto contra os shoppings, que representam “a utopia neoliberal”.
Atreva-se a sorrir e pedir “menos”, e prepare-se para ser linchado como sujeito de rara insensibilidade social.
Enquanto isso, no confortável presídio de Pedrinhas, do Maranhão, em consequência – segundo a governadora do Estado - de explosivo enriquecimento do Estado, as cabeças são literalmente cortadas, sem que haja sequer um Gláuber Rocha vivo para registrar para a posteridade esse embate entre Deus e o Diabo na Terra do Sol.
O ministro da Justiça levou para lá o seu ar mais grave, aquele dos grandes momentos, para posar ao lado da governadora nas fotos, mas preferiu guardar o recato em seus pronunciamentos, e assim poupou-se do vexame de Luiza Barros e de Gilberto Carvalho.
E olha que o rolezinho de Pedrinhas é coisa de gente grande.
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