Mary Zaidan
Quase 13 milhões de jovens e adultos analfabetos, outros 30,5 milhões que já viram uma ou outra letra e nada compreendem; 43% dos domicílios sem o trio básico de saneamento – água encanada, esgoto e coleta de lixo; 50 mil homicídios ao ano, 25,8 por 100 mil habitantes, o que coloca o País no sétimo lugar entre os mais violentos do mundo.
Esse Brasil pobre e sem luz no fim do túnel é o mesmo que garante a mais perversa das equações: quanto mais ignorantes e miseráveis, mais votos depositam em salvadores da pátria.
Engana-se quem imaginar que isso se restringe ao Maranhão dos Sarneys. A indústria da miséria, que o PT urbano e intelectual dos anos 1980 combatia com unhas e dentes, continua a prosperar. E até com mais fôlego.
No Nordeste e no Norte, a aprovação da presidente Dilma Rousseff bate nos céus e os indicadores sociais afundam-se na lama. Os nordestinos respondem por 52% dos completamente analfabetos e 30,9% dos analfabetos funcionais do País.
Seus índices de morte matada são de guerra: 61,8 por 100 mil em Alagoas, 42,5 no Ceará, 40,7 na Bahia, 40 por 100 mil em Sergipe. No Norte, água, esgoto e coleta de lixo chegam só a 13% da população. Em 10 anos, os avanços nessa área foram de tímidos 2,1%.
Para esses que vivem à margem, até sem um vaso sanitário, há o Bolsa Família, hoje com 14,1 milhões de beneficiários. Dinheiro indispensável, mas que não deveria dispensar os investimentos em estruturas mínimas para, aí sim, começar a eliminar a miséria.
Não é por acaso que depois de chegar ao Planalto o PT substituiu o discurso combativo pelo peleguismo, pela política de resultados, pelo clientelismo. Com isso, o perfil de seu eleitor migrou das grandes para as pequenas cidades.
Dilma é imbatível no Norte e Nordeste entre os eleitores de baixa escolaridade e em municípios com até 50 mil habitantes. Encontra dificuldades em centros urbanos, até mesmo em São Luís, capital da terra do aliado Sarney.
Na cidade de São Paulo, onde poderia inverter essa lógica, o errático Fernando Haddad mais aterroriza do que anima o petismo. Nos maiores colégios eleitorais terá de enfrentar o favoritismo de Aécio Neves em Minas, as duas décadas dos tucanos em São Paulo e o descontente PMDB, que não vai facilitar a vida da presidente. Pior: sua base nordestina sofre baixas com a candidatura Eduardo Campos.
Quem sabe se com esses desconfortos cutucando o favoritismo de Dilma, a campanha eleitoral se volte não para a chatice das promessas sem lastro, do “nós versus eles”, mas para o apavorante e atrasado Brasil que não sabe ler e escrever, que não tem banheiro nem água, que vê seus jovens serem mortos sem saber por quê.
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