Assustados com a repercussão de seus encontros realizados em shoppings centers, adolescentes agora marcam encontro em massa no Parque Ibirapuera para curtir sem confusão
Mariana Zylberkan - VEJA
Adolescentes moradores do Campo Limpo aderem à onda do "rolezinho" - Ivan Pacheco
“Nós não podemos nem mais ir ao shopping que frequentamos. Os seguranças batem o olho em nós e nos barram”, diz Vinicius Andrade, de 17 anos. O adolescente morador do Capão Redondo, na Zona Sul de São Paulo, é um dos jovens que viram sua rotina mudar na última semana após o chamado “rolezinho”, encontro de jovens em shoppings da periferia, ser tirado de seu contexto para suscitar discussões políticas e sociais após uma chuva de liminares evitar os encontros nos centros comerciais. Com mais de 80.000 seguidores no Facebook, Vinicius é uma espécie de celebridade entre os jovens da periferia que usam a rede social e seus convites para um simples “rolê” pelo shopping costumam atrair centenas de pessoas. Foi ele quem convocou dois “rolezinhos” no Shopping Campo Limpo, no fim de dezembro e na semana passada, que terminaram em confusão. Em vez de propor um novo encontro no shopping “para curtir, comer uns lanches e encontrar os ‘parças’”, neste fim de semana, Vinicius decidiu, diante de tanta repercussão, usar sua popularidade para chamar seus seguidores para ir ao Parque do Ibirapuera, “um lugar aberto e público para não ter problemas”.
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Sem-teto pegam carona em 'rolezinho' e fecham shoppings
Neste sábado, está marcado também um “rolezinho” no shopping JK, mas os amigos e seguidores de Vinicius não vão passar nem perto. O encontro foi convocado por movimento que combate o racismo e acusa o centro comercial de ter praticado segregação social ao escolher quem podia entrar ou não entrar no shopping no último fim de semana, quando uma liminar barrou a realização de um encontro convocado na rede social por um professor de inglês, morador da Zona Leste. “Esse shopping é longe e não conhecemos ninguém por lá. Não tem sentido esse ‘rolezinho’.”
A palavra “rolezinho” quer dizer curtição e é usada pelos adolescentes para se referir a qualquer situação de diversão, como os bailes funk. A proibição de “pancadões” nas ruas por um projeto de lei aprovado na Câmara Municipal de São Paulo, inclusive, chegou a ser apontada como estopim das “invasões” aos shoppings. O prefeito Fernando Haddad (PT) vetou o texto no último dia 7, mas a decisão não foi vista com bons olhos por Vinicius e seus amigos. “Ele só voltou atrás porque as eleições estão perto. Sabemos que eles querem os votos dos jovens”, diz David Santana, de 18 anos.
Além da Prefeitura de São Paulo, o Ministério Público Estadual também tem se esforçado para se aproximar dos jovens e entender o que eles querem dizer com seus “rolezinhos”. Na última terça-feira, várias entidades do órgão se reuniram para discutir o assunto e decidiram chamar um “rolezinho” no prédio do MP na próxima semana para entender os propósitos dos adolescentes. “O que sabemos é que os jovens estão realizando algum tipo de protesto. A ideia é mediar fazer uma mediação entre os adolescentes e os centros de compra”, disse a promotora de Infância e Juventude Luciana Bergamo.
A intenção deles, na verdade, é muito menos engajada politicamente do que gostariam os movimentos sociais e setores da política pública. Fãs de funk ostentação, os adeptos do “rolezinho” querem se divertir e consumir produtos de grifes cantadas por seus ídolos.
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“Nós não podemos nem mais ir ao shopping que frequentamos. Os seguranças batem o olho em nós e nos barram”, diz Vinicius Andrade, de 17 anos. O adolescente morador do Capão Redondo, na Zona Sul de São Paulo, é um dos jovens que viram sua rotina mudar na última semana após o chamado “rolezinho”, encontro de jovens em shoppings da periferia, ser tirado de seu contexto para suscitar discussões políticas e sociais após uma chuva de liminares evitar os encontros nos centros comerciais. Com mais de 80.000 seguidores no Facebook, Vinicius é uma espécie de celebridade entre os jovens da periferia que usam a rede social e seus convites para um simples “rolê” pelo shopping costumam atrair centenas de pessoas. Foi ele quem convocou dois “rolezinhos” no Shopping Campo Limpo, no fim de dezembro e na semana passada, que terminaram em confusão. Em vez de propor um novo encontro no shopping “para curtir, comer uns lanches e encontrar os ‘parças’”, neste fim de semana, Vinicius decidiu, diante de tanta repercussão, usar sua popularidade para chamar seus seguidores para ir ao Parque do Ibirapuera, “um lugar aberto e público para não ter problemas”.
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Neste sábado, está marcado também um “rolezinho” no shopping JK, mas os amigos e seguidores de Vinicius não vão passar nem perto. O encontro foi convocado por movimento que combate o racismo e acusa o centro comercial de ter praticado segregação social ao escolher quem podia entrar ou não entrar no shopping no último fim de semana, quando uma liminar barrou a realização de um encontro convocado na rede social por um professor de inglês, morador da Zona Leste. “Esse shopping é longe e não conhecemos ninguém por lá. Não tem sentido esse ‘rolezinho’.”
A palavra “rolezinho” quer dizer curtição e é usada pelos adolescentes para se referir a qualquer situação de diversão, como os bailes funk. A proibição de “pancadões” nas ruas por um projeto de lei aprovado na Câmara Municipal de São Paulo, inclusive, chegou a ser apontada como estopim das “invasões” aos shoppings. O prefeito Fernando Haddad (PT) vetou o texto no último dia 7, mas a decisão não foi vista com bons olhos por Vinicius e seus amigos. “Ele só voltou atrás porque as eleições estão perto. Sabemos que eles querem os votos dos jovens”, diz David Santana, de 18 anos.
Além da Prefeitura de São Paulo, o Ministério Público Estadual também tem se esforçado para se aproximar dos jovens e entender o que eles querem dizer com seus “rolezinhos”. Na última terça-feira, várias entidades do órgão se reuniram para discutir o assunto e decidiram chamar um “rolezinho” no prédio do MP na próxima semana para entender os propósitos dos adolescentes. “O que sabemos é que os jovens estão realizando algum tipo de protesto. A ideia é mediar fazer uma mediação entre os adolescentes e os centros de compra”, disse a promotora de Infância e Juventude Luciana Bergamo.
A intenção deles, na verdade, é muito menos engajada politicamente do que gostariam os movimentos sociais e setores da política pública. Fãs de funk ostentação, os adeptos do “rolezinho” querem se divertir e consumir produtos de grifes cantadas por seus ídolos.
A lista é longa – tênis Adidas, óculos espelhado Oakley, camisetas e bonés Hollister, Lacoste, Tommy Hilfiger, Abercrombie e Ralph Lauren – e o preço alto desses artigos não os assusta.
Os adolescentes compram de pessoas que viajam ao exterior e revendem as roupas ou parcelam em muitas vezes. Cópias piratas são rejeitadas. Para sustentar o guarda-roupa grifado e a gula por fast food, eles correm atrás do dinheiro.
Vinicius, por exemplo, diz ganhar 500 reais por semana vendendo borrachas coloridas para aparelhos ortodônticos. Ter aparelhos nos dentes também é moda entre os adolescentes. Seu primo, Fernando César, de 17 anos, juntava o salário como empacotador de supermercado e Marcos Paulo, de 16, ganha 50 reais por noite em uma empresa que monta e desmonta estruturas para eventos.
O incrível número de seguidores no Facebook também é fonte de renda conquistada por meio de vídeos engraçados que eles mesmos produzem para atrair popularidade. Vinicius e David, que têm 80 000 e 50 000 seguidores, respectivamente, recebem 300 reais de organizadores de baile funk para eles divulgarem seus eventos. David diz que já recebeu proposta para ser garoto propaganda na rede social de uma marca esportiva.
Diante de tanta repercussão, Vinicius viu na onda do “rolezinho” o empurrão que faltava para ir em busca de seu sonho de ser ator. “Todo mundo ri de mim na favela quando falo que quero ser ator”, diz ele que já se inscreveu em um curso de artes cênicas.
Os adolescentes compram de pessoas que viajam ao exterior e revendem as roupas ou parcelam em muitas vezes. Cópias piratas são rejeitadas. Para sustentar o guarda-roupa grifado e a gula por fast food, eles correm atrás do dinheiro.
Vinicius, por exemplo, diz ganhar 500 reais por semana vendendo borrachas coloridas para aparelhos ortodônticos. Ter aparelhos nos dentes também é moda entre os adolescentes. Seu primo, Fernando César, de 17 anos, juntava o salário como empacotador de supermercado e Marcos Paulo, de 16, ganha 50 reais por noite em uma empresa que monta e desmonta estruturas para eventos.
O incrível número de seguidores no Facebook também é fonte de renda conquistada por meio de vídeos engraçados que eles mesmos produzem para atrair popularidade. Vinicius e David, que têm 80 000 e 50 000 seguidores, respectivamente, recebem 300 reais de organizadores de baile funk para eles divulgarem seus eventos. David diz que já recebeu proposta para ser garoto propaganda na rede social de uma marca esportiva.
Diante de tanta repercussão, Vinicius viu na onda do “rolezinho” o empurrão que faltava para ir em busca de seu sonho de ser ator. “Todo mundo ri de mim na favela quando falo que quero ser ator”, diz ele que já se inscreveu em um curso de artes cênicas.
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