sexta-feira, 21 de março de 2014

DA ENCENAÇÃO DA "FAXINA" AO "BODE EXPIATÓRIO"

Dilma manda demitir Cerveró. É pouco! Isso é tática do bode expiatório

Por Reinaldo Azevedo
Tentaram queimar um fusível para ver se conseguem interromper os desastres causados pelo curto-circuito. Nestor Cerveró, que era diretor da Área Internacional da Petrobras em 2006 e agora respondia pela Direção Financeira da BR Distribuidora, foi exonerado. É mesmo, é? Estamos diante de um caso clássico, emblemático, de bode expiatório. Por que só agora?
Ao mandar botar Cerveró na rua, Dilma reforça a versão de que os conselheiros foram enganados por um memorial executivo manco, que não trazia as informações completas sobre a natureza do contrato da Petrobras com a Astra. Ok.
Mas isso só reforça o óbvio: a decisão de Dilma tem pelo menos sete anos de atraso, não é mesmo? Em 2007, ano seguinte à compra, quando a Astra entrou na Justiça americana, a então presidente do Conselho ficou sabendo da natureza do contrato. Quando assumiu a Presidência, em 2011, a empresa brasileira ainda lutava para não ter de pagar quase US$ 1 bilhão pela outra metade da refinaria. Em 2012, a causa chegou ao fim. A Petrobras perdeu. E lá se foram US$ 820,5 milhões pelo ralo.
Quase dois anos depois, até este dia 21 de março, lá estava Cerveró — cujo resumo executivo manco, então, Dilma conhece, no mínimo, desde 2007 — como diretor financeiro da BR Distribuidora, divisão da Petrobras comandada pelo PT. O chefe máximo é José Eduardo Dutra, ex-presidente do partido e um dos “Três Porquinhos”.
Vai ficar só nisso? Dilma manda demitir Cerveró porque admite, então, que ele fez um resumo executivo que foi lesivo à Petrobras, mas não ordena que Graça Foster, presidente da Petrobras, mobilize a área jurídica da empresa contra José Sérgio Gabrielli, então presidente da estatal (ou melhor: empresa de economia mista; há acionistas que foram lesados)? Gabrielli deixou claro que sabia de tudo e ainda sustenta que se tratou de operação corriqueira.
Das duas uma: a) ou bem se trata mesmo de uma burla, como parece que é, e isso justifica a demissão de Cerveró — o que implica que se busque punir também Gabrielli; b) ou bem não foi uma burla, e a demissão é, então, injusta. Qual é a alternativa correta, soberana?
Mais: ao mandar demitir Cerveró, Dilma admite que só esse “negocinho” na gestão Lula-Gabrielli provocou um prejuízo bilionário à Petrobras.

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