segunda-feira, 28 de abril de 2014

AÇÃO CRIMINOSA, PORÉM 100% POLÍTICA

Brasil tem 227 ônibus incendiados em 2014

Só na cidade de São Paulo, maior foco de casos, número registrado nos quatro primeiros meses do ano – 70 – ultrapassa todas as ocorrências de 2013


Um ônibus de transporte coletivo foi incendiado por volta das 5h30 desta segunda-feira em São José, na Grande Florianópolis

Nos quatro primeiros meses de 2014, ao menos 227 ônibus foram incendiados no Brasil em 38 cidades. Pelo menos doze capitais registraram o mesmo tipo de ocorrência. Com 127 casos contabilizados até a última sexta-feira, o Estado de São Paulo concentra o principal foco da onda de vandalismo que prejudica a mobilidade urbana. Só na capital, o número de coletivos queimados no último quadrimestre ultrapassa o total de ocorrências registradas durante todo o ano de 2013, foram 70 e 53, respectivamente. O Estado do Rio de Janeiro aparece como a segunda frota mais afetada – 31 ônibus – e Minas Gerais e Pernambuco surgem na sequência com 15 e 14 veículos atingidos. Apenas na cidade de Caruaru, em Pernambuco, no último dia 7, um incêndio criminoso atingiu uma garagem e destruiu 12 coletivos em uma só noite.
As imagens de coletivos em chamas, ou transformados em cinzas em meio à carcaça de ferro, têm sido cada vez mais recorrentes no noticiário desde junho do ano passado, quando foi deflagrada a série de manifestações pelo país que degringolou para um triste festival de depredação do patrimônio público. A gota d’água, porém, parece ter acontecido na madrugada da última terça-feira, quando 34 ônibus foram destruídos pelas chamas após ataque a uma garagem em Osasco, na região metropolitana de São Paulo. O atentado seria uma represália à morte de um traficante que atua na cidade. Foi a maior quantidade de coletivos atingidos de uma só vez, mais até do que o atentado que destruiu exatamente a metade da frota de ônibus de Caruaru, no último dia 7. A polícia pernambucana ainda investiga as causas do incêndio.
O fogo ateado aos coletivos serve aos mais diferentes propósitos: chamar atenção para manifestações por motivos diversos, como falta d’água, e morte de moradores de favelas. Nas mãos dos bandidos, os incêndios são usados como represália a mortes de comparsas ou a perda de privilégios de líderes de facções dentro de presídios. Esse foi o motivo que levou ao caso mais chocante de incêndio a ônibus que culminou na morte da menina Ana Clara Santos Sousa, de 6 anos, em São Luís (MA), no início de janeiro.
(...)
Além da impunidade dos vândalos, o ônus de tantos caos de incêndios a coletivos acaba na conta paga pela população. De acordo com o Sindicato das Empresas de Transporte Coletivo Urbano de Passageiros de São Paulo (SP Urbanuss), cada ônibus destruído demanda até cinco meses para ser reposto ao custo de 500.000 reais. Durante esse tempo todo, é a população que sofre com maior tempo de espera nas linhas e a consequente lotação dos ônibus que sobram. 

“O inimigo é mais forte do que nós e está nos derrotando”, diz Francisco Christovam, presidente do sindicato, que veicula desde quinta-feira uma campanha intitulada “Ônibus queimado não leva a lugar nenhum”, que busca incentivar a população a denunciar autores de atos de vandalismo.
Com a proximidade da Copa do Mundo, eleições e o acirramento das tensões nas ruas, é certo o aumento do número de ataques a ônibus. “Esses atos produzem perdas seríssimas no sistema econômico e torna a população ainda mais insatisfeita com o poder público; e essa perda de autoridade do Estado pode ser usado como instrumento político”, diz Nelson Gonçalves, professor do curso de Tecnologia em Segurança e Ordem Pública da Universidade Católica de Brasília (UCB). 

Nenhum comentário:

Postar um comentário