Criada há mais de 60 anos como um dos três pilares do desenvolvimento do Nordeste – os outros foram a Sudene e o BNB – a Chesf, a maior estatal da região, e que, até o ano passado, chegou a empregar, diretamente, 5 mil nordestinos, sendo também citada como a empresa que mais dava lucros no setor elétrico nacional, é a mais nova vítima da política equivocada adotada pela presidente Dilma na área de energia.
Ao seguir à risca a promessa feita pelo ex-presidente Lula em 2008 de transformar a Eletrobras “em uma Petrobras do setor elétrico”, Dilma, ainda como ministra e depois como presidente, determinou que todas as estatais do sistema deveriam transferir para a Eletrobras todo o seu lucro anual.
Foi assim que a Chesf enviou para a Eletrobras todo o seu lucro de 2009, calculado em R$ 906 milhões; o lucro de 2010, que chegou a R$ 2,1 bilhões; e o de 2011 que foi de R$ 1,5 bilhão. Em três anos, cerca de R$ 4,5 bilhões saíram do Recife para engordar os cofres da Eletrobras no Rio de Janeiro.
A perda dos lucros também obrigou a empresa a implantar um rigoroso plano de demissão voluntária que já causou a saída dos seus quadros de cerca de 1.300 técnicos. Mais recentemente, a Chesf foi vítima da redução das contas de luz, assumindo, como as demais estatais do setor, o prejuízo causado por uma contenção artificial do reajuste das tarifas, adotada com o objetivo de impedir um desgaste ainda maior da imagem da presidente, que é candidata à reeleição.
A mistura do PDV (Plano de Demissão Voluntária) com a contenção das tarifas acabou explosiva no balanço da empresa. Em 2012, por exemplo, a Chesf teve um prejuízo de R$ 5,3 bilhões e em 2013 de R$ 466 milhões.
Poderia uma empresa, citada como modelo, de repente desaprender e, ao invés de lucros, acumular seguidos prejuízos? Claro que não.
Poderia uma empresa, citada como modelo, de repente desaprender e, ao invés de lucros, acumular seguidos prejuízos? Claro que não.
Sem autonomia para tomar suas próprias decisões, a Chesf acabou sendo penalizada ao longo desse tempo, atrasando obras ou deixando de fazer a devida manutenção em suas linhas de transmissão. Resultado é que acabou sendo acusada de responsável – quase sempre injustamente – por todos os apagões localizados ou amplos que têm acontecido no Nordeste.
Ainda por falta de recursos para investimento, a empresa que antes disputava, nacionalmente, através de licitações, a construção de obras no setor elétrico vem sendo constrangida desde abril de 2013 pela Aneel – Agência Nacional de Energia Elétrica – que a impede de participar de novas licitações sob alegação de que está com obras atrasadas.
Até quando esta situação vai perdurar? Ninguém sabe até porque o núcleo decisório não está mais em Recife e sim no Rio e em Brasília.
A verdade é que, neste momento, é imprevisível o futuro da empresa e não se vê mais nem reação a tudo isso. Quem sabe pela frustração dos que se mobilizaram em 2008, quando o desmonte começou, e nada e nem ninguém conseguiu impedir que o Governo Federal seguisse em frente. De lá para cá tudo só fez piorar.
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