Mary Zaidan
Nem Aécio Neves e o PSDB, nem Eduardo Campos e Marina Silva, mas a imprensa. Esse é o inimigo declarado do PT, a fera que tem de ser vencida, ou pelo menos domada, para que o partido se perpetue no poder. Isso dito com todos os efes e erres pelo ex-presidente Lula, líder maior do petismo.
“O principal partido de oposição é a imprensa”, bradou Lula para a plateia do 14º Encontro Nacional do PT, sexta-feira, em São Paulo. Mais tímida do que de costume, a galera se animou pouquíssimas vezes, boa parte delas quando os oradores desciam a lenha no que o presidente do partido, Rui Falcão, chamou de “cerco midiático”.
O ex, é claro, roubou todas as cenas, ainda que o palco tenha sido montado para enterrar de vez o “volta Lula”.
Não foi a primeira nem será a última vez que a mídia é o foco central das críticas petistas. Desde que o mensalão veio à tona, em 2005, a imprensa passou a ser a pedra mais pontiaguda no sapato de Lula e sua turma. Ainda que desejassem - Lula com maior afinco e Dilma sem expor apetite -, as tentativas de regular a mídia não vingaram, mesmo com a folgada maioria congressual de ambos para fazê-la.
O que atrapalha a tal regulação é o repúdio de parcela significativa do público. Algo só comparável à aversão ao continuísmo, que levou Lula a descartar a luta por um cobiçado terceiro mandato consecutivo.
Portanto, mesmo que o sonho continue sendo argentinizar, venezuelar ou até mesmo cubanizar, o PT, há tempos, preferiu adorar, adular, acariciar a elite que finge combater. E isso vale para toda e qualquer atividade, incluindo a mídia que o partido tanto acusa de monopolista.
Essa dubiedade tem preço. Não raro, alto. Que, mais cedo ou mais tarde, começa a ser cobrado.
O público pífio de três mil pessoas e as vaias aos políticos petistas no 1º de Maio da CUT em São Paulo que o digam. Para o tanto que a CUT refestela-se no governo, o evento que a vexou foi fatura barata. Já para o PT, foram sinais para lá de alarmantes.
O partido, que já não tinha entendido as manifestações de junho de 2013, que se arvoraram a acontecer sem a sua tutela, está definitivamente divorciado das ruas. Tão longe delas que no 1º de Maio em São Bernardo do Campo, berço do próprio Lula, o palanque nada teve a ver com as demandas dos trabalhadores. Abrigou uma mistura de religião e de clichês contra a mídia, esta fera, a besta, o mal.
Safo, no 14º Encontro Lula conclamou os petistas a trabalharem na construção de “uma nova utopia na cabeça dos jovens”. Mas como dubiedade sempre tem preço, pisou na bola. Com todos os efes e erres, disse que o PT se tornou uma “máquina de fazer dinheiro”.
Depois a culpa é da imprensa.
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