O Globo (Editorial)
O atual momento, quase a um mês da Copa, serve para o resgate da surrada máxima de que “o futebol brasileiro só evoluiu da boca do túnel para dentro”. A imagem, criada para criticar a administração dos cartolas dos clubes e entidades, pode ser usada para ilustrar o saldo negativo no planejamento e execução do projeto do torneio, de que governos federal e estaduais são os responsáveis.
Não consolam fotos de jogos da Copa de 50 em que aparece um Maracanã ainda com enormes andaimes nas arquibancadas. As cenas podem não se repetir, mas o que foi prometido, quando o país, em 2007, conquistou a escolha da sede da Copa de 2014, não será entregue. Este jogo está perdido.
O erro começou com a pressão brasileira para aumentar de oito para 12 o número de cidades-sede. Lula, ainda no Alvorada, deve ter arquitetado ampliar o palanque por onde desfilaria a sua sucessora, Dilma Rousseff, em campanha para a reeleição.
Maracanã ainda em obras às vésperas da Copa de 1950. Foto: Suderj
Só a primeira parte do plano deu certo: ele elegeu Dilma. Mas usar jogos como palanque, os petistas são os primeiros a saber que seria uma insanidade, diante do mau humor que toma conta do país.
Não se anteveem grandes problemas com estádios, embora tenham ocorrido atrasos de provocar ataques de nervos em Jérôme Valcke, o francês secretário-geral da Fifa.
Uma das grandes falhas do projeto Copa é o pequeno legado — quando existe — para as populações das cidades-sede em termos de projetos de infraestrutura, principalmente para facilitar a locomoção das pessoas. No início, havia listadas 56 obras com este objetivo. Foram cortadas para 39, e talvez não cheguem a dez as que terão sido entregues até 12 de junho.
Outro gol contra foram os aeroportos. Por cegueira ideológica, o governo federal demorou muito a licitar terminais para serem administrados pela iniciativa privada, uma solução óbvia.
O Galeão, símbolo da ineficiência histórica da estatal Infraero, só foi licitado no começo de abril. Melhorias efetivas, apenas para as Olimpíadas, daqui a dois anos. O problema nos aeroportos é menos de capacidade e mais de falta de conforto, em todos os sentidos, imposta aos viajantes.
Outra derrota brasileira é nos custos. Dentro da tradição pátria, eles se multiplicam sem limites. Apenas no Itaquerão, de São Paulo, onde a Copa será aberta com o jogo do Brasil contra a Croácia, em 12 de junho, o orçamento de R$ 820 milhões já havia sido ultrapassado em R$ 300 milhões.
Seja ou não o Brasil hexa, tem-se de analisar as causas de todos os erros, e aprender com eles, talvez para evitar problemas nas Olimpíadas do Rio, daqui a dois anos. O legado das falhas tem função pedagógica a ser explorada. A China fez os Jogos Olímpicos de 2008 para fortalecer a imagem de um país empreendedor, capaz de planejar e executar grandes projetos. O Brasil perdeu uma oportunidade.
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