sexta-feira, 16 de maio de 2014

ERA O QUE FALTAVA

José Aníbal

Segundo reportagem do Estadão, recursos do fundo partidário foram usados pelo PT para pagar os advogados de Rosemary Noronha, ex-chefe de gabinete da Presidência em São Paulo. Suspeita de integrar um esquema de venda de “facilidades” na administração pública, Rosemary, assim como outros filiados petistas encrencados com a Justiça, teria custeado sua defesa com dinheiro dos impostos dos contribuintes.

Empregar recursos públicos para defender pessoas acusadas de lesar o Estado é a quintessência do cinismo e do deboche. Aqui, o poder público passa a ser o avalista de uma operação de risco. Caso um militante-delinquente seja pego burlando a lei ou surrupiando cofres públicos, o partido, com o dinheiro do cidadão, paga sua defesa. É uma espécie de “seguro ladrão” – obviamente ilegal e imoral.

A lei é cristalina quanto à aplicação desses recursos. Ela proíbe que despesas pessoais sejam pagas com o fundo partidário. Embora quase R$ 1 milhão tenha sido pago pelo PT – com o fundo partidário – aos advogados de Rosemary, eles juram que os honorários do processo por tráfico de influência, formação de quadrilha e corrupção passiva foram “cortesia”. Os repasses do partido ao escritório teriam servido para quitar outras causas.

Rosemary Noronha

Cada vez mais infestada pelo partido, a máquina pública sofre com disfuncionalidades crescentes em vários níveis. As instituições vão sendo carcomidas por apaniguados e a agenda nacional aos poucos sucumbe a interesses enviesados. Melhor exemplo são as estatais, que fraquejam à mercê de promiscuidades diversas. Agora mais essa: financiamento público de criminalistas para beneficiários privados.

À medida em que essas espertezas vão aparecendo e a reprovação ao governo ganha voz, cresce a violência retórica do PT contra quem cruza seu caminho. Após o processo de suavização ideológica, cujas marcas foram o “Lulinha Paz e Amor” e a “Carta ao Povo Brasileiro”, o partido aos poucos vai reavivando as fagulhas de seu raivoso radicalismo. Ao perder a vergonha de mostrar o que é, o PT reencontra sua história.

O curioso é que o radicalismo petista, antes nutrido por ranços ideológicos, agora se inflama pela defesa das ilegalidades cometidas. A confusão entre o Estado e o partido é tão obscena que eles perderam a vergonha de reinvindicar legitimidade para seus desvios. Se Lula vocifera contra a Justiça, é por ela fazer valer a lei. Se o PT ataca a imprensa, é porque ela não se curva. Agora, dinheiro do fundo partidário paga advogado de militante pego no pulo. Era só o que faltava.

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