sábado, 10 de maio de 2014

PAGAMOS MUITO MAIS POR QUASE NADA

Mané Garrincha custa 61% mais do que arena nababesca da Arábia Saudita


Quando o ministro do Esporte, Aldo Rebelo, discursou na inauguração do Estádio Nacional Mané Garrincha, em Brasília, em maio do ano passado, a grandiosidade da obra inspirou-lhe uma comparação suntuosa. "Se Darcy Ribeiro dizia que o Brasil é uma nova Roma, só que mais democrática, pois lavada em sangue negro e índio, essa Roma acaba de ganhar seu Coliseu".

A comparação do estádio brasileiro com a arena romana, cujas ruínas sobrevivem há quase 2.000 anos na Itália, talvez pareça exagerada hoje em dia, um ano após a inauguração do Mané Garrincha, já que o equipamento apresentou goteiras e vazamentos generalizados há cinco meses. A cobertura de mais de R$ 200 milhões não apresentou a resistência ao tempo que o Coliseu já provou ter.

É possível, entretanto, que não tenha sido a estrutura da arena a musa inspiradora do ministro. Talvez tenha sido o custo do estádio o que tenha levado o Anfiteatro Flaviano à mente de Rebelo. Afinal, se a arena brasiliense, de acabamento espartano e cobertura efêmera, não remete à grandeza da arena da Cidade Eterna, seu preço poderia muito bem ser suficiente para erguer monumentos de até maior vulto.

No último dia 1º, foi inaugurada, a 50 quilômetros da cidade de Juddah, na Arábia Saudita, a suntuosa Cidade do Esporte Rei Abdullah. Ela engloba um estádio de futebol de mesmo nome para 60.000 torcedores, um ginásio poliesportivo para 2.000 pessoas, um estádio de atletismo para 1.000 espectadores, uma mesquita para 500 fiéis, um estacionamento para 45.000 veículos, quadras de tênis e campos de futebol para treino e recreação. Além, é claro, de uma luxuosa suíte para receber o rei que empresta o nome ao estádio.

O custo total da obra, de acordo com as autoridades sauditas e com as construtoras que ergueram o complexo, foi de 384 milhões de euros, ou R$ 1,18 bilhão. O TC-DF (Tribunal de Contas do Distrito Federal) calcula que as obras do Mané Garrincha e de seu entorno, que ainda não estão completas, sairão por R$ 1,9 bilhão, valor 61% maior do que foi empregado no complexo saudita.

Apesar disso, a Cidade do Esporte Rei Abdullah em pouco lembra o estádio brasileiro que inspirou Rebelo. Dentro do estádio, 150 quadros e esculturas de artistas árabes ornamentam os ambientes, em nada remetendo às paredes sem pintura de cimento queimado do estádio Nacional.

Tampouco as vias de acesso perfeitamente pavimentadas e escoltadas por palmeiras da arena saudita fazem lembrar os campos de terra (e lama, quando chove) que servem de caminho de chegada ao público para o Mané Garrincha.

No entorno do Estádio Rei Abdullah, o ginásio poliesportivo climatizado, com suas 2.000 cadeiras numeradas e sistema de wi-fi para todos, ou as seis quadras de tênis e três campos de futebol, ou ainda a mesquita acarpetada capaz de receber 500 fiéis não podem servir de comparação com o Complexo Esportivo Ayrton Senna (veja fotos abaixo), dentro do qual está o Mané Garrincha.

No folder de propaganda que o Governo do Distrito Federal confeccionou e distribuiu em hoteis e aeroportos, o complexo, que possui quadras de vôlei e basquete, dois ginásios, complexo aquático, um autódromo e até um Cine Drive-in, está novo em folha.

Na realidade, porém, encontra-se praticamente todo em ruínas. Talvez daí tenha vindo a inspiração do ministro Rebelo.

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