segunda-feira, 26 de maio de 2014

VIRA-LATAS

Elton Simões

Fracasso total talvez inexista. Provavelmente seja conceito que habita somente o mundo das ideias sem jamais tocar a realidade. Fracassos não são absolutos. Vêm em graus e intensidades variadas. Por isto, são tão difíceis de medir.

Mas a dificuldade na mensuração não deveria, em tese, servir como argumento para a negação de sua existência. Fracassos acontecem quando os objetivos não são atendidos. A distância entre a intenção e fato denuncia o tamanho e intensidade do fracasso.

Todo projeto fracassado começa com objetivos ambiciosos, amparados por planejamento deficiente, e executado sem a competência e empenho necessários. É função do casamento da incompetência com desonestidade intelectual.

A primeira característica da chegada do fracasso é a negação de sua existência. É quando impera a falsidade. É vitória efêmera do fingimento sobre a realidade. É a aposta na cegueira e falta de memória coletiva.

Infelizmente, o tempo passa. E sua passagem traz consigo a percepção mais clara dos fatos. Tornando impossível a negação da realidade. Nesta hora, responsáveis pelo fracasso tendem a minimizar os problemas. Pregam o conformismo. Uma espécie de pacto com a mediocridade.

Mediocridade é coisa difícil de aceitar. A insatisfação causada pela distância entre o prometido e o entregue não diminui com a mediocrização tardia dos objetivos. Sentindo o cheiro da chegada do fracasso, e embalada pela sensação de engodo, a indignação aflora.

Nesta hora, somem os responsáveis. Silenciam as autoridades. E, com a mesma facilidade, abundam os culpados. Afinal, culpados são fáceis de criar. Basta o uso adequado, mas indiscriminado, do dedo indicador.

Autoridades e demais responsáveis pelo fracasso estão sempre ávidos e dispostos a distender seus indicadores em qualquer direção que lhes garanta o distanciamento do fracasso. E, na busca por culpados, sobra culpa para todo lado. Até para 'complexo de vira-lata'.

Injustiça com os vira-latas. Fossem eles os responsáveis, talvez os resultados fossem diferentes.

Possivelmente motivados pela sua baixa autoestima, os vira-latas teriam trabalhado mais, planejado melhor, e entregado (pelo menos) o suficiente.

Talvez ai esteja uma boa explicação. Faltaram vira-latas!


Elton Simões mora no Canadá. Formado em Direito (PUC); Administração de Empresas (FGV); MBA (INSEAD), com Mestrado em Resolução de Conflitos (University of Victoria).

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