Mary Zaidan
Primeiro, as promessas de mundos e fundos. Um legado nunca antes visto neste País se materializaria em mais aeroportos, portos, transporte urbano, telecomunicações. E ai dos que não acreditassem no conto. Uns danados de pessimistas, gente que aposta no quanto pior, melhor. Antipatriotas.
Agora, com apenas 38% das 93 obras da Matriz de Responsabilidade da Copa prontas, de acordo com o Sinaenco, o jeito é apelar para a alegria, para a alma e o ânimo do povo brasileiro, como fez Dilma Rousseff, sem esconder o desânimo. E incentivar o torcedor a ir assistir aos jogos a pé, de bicicleta e até de jegue, como sugeriu o ex Lula, para quem é “babaquice” essa história de metrô levando gente até dentro dos estádios.
Mais do que acinte, cretinice. Lula, aquele que como ninguém sempre soube colocar as palavras e até o seu português ruim para lhe garantir aplausos, se ferroou com o seu próprio veneno. Fez chacota com o povo. Pior, com os mais pobres, com aqueles que dependem de transporte público. Que deveriam ter transporte digno todos os dias, que não montam e nem são “jumento”.
O Brasil está fazendo a Copa mais cara já realizada no planeta e com a maior taxa de obras inacabadas. Algumas, concluídas, de nada servem, como o terminal de passageiros de Natal, uma obra de mais de R$ 70 milhões, que, segundo o presidente do TCU, Augusto Nardes, está pronto, mas não pode receber turistas devido ao desnível na construção da plataforma de embarque.
Itaquerão ainda em obras. Foto: Beatriz Souza / EXAME.com
Incluem também estádios, como o Itaquerão, em São Paulo, cidade que vive a maior seca de sua história e que terá de torcer por mais secura no jogo de abertura da Copa para não molhar os torcedores.
Os sem-cobertura vexam o País, mas preocupam menos do que os sem-teto que ameaçam protestos no dia D. Acampados na vizinhança do estádio com aval do prefeito Fernando Haddad e bajulados pela presidente quando ela deu por concluída a arena corintiana, eles podem até ser aliados, mas só enquanto a conveniência assim ditar. Portanto, é um risco posto.
Primeiro veio o bordão “imagina na Copa”, usado com humor para demonstrar insatisfação com o que não funcionava direito. Depois vieram as manifestações do ano passado, desaguadouro para críticas contra a baixíssima qualidade dos serviços públicos essenciais: saúde, escola, transporte. Vieram o vandalismo, a violência, o “não vai ter Copa”.
Só isso seria suficiente para responsabilizar Lula, que, com sua provocação infeliz, atiçou quem paga muito para não ter quase nada em troca, quem não é “babaca”.
Mais cedo ou mais tarde o troco vem. A urna não discrimina quem chega “a pé, de bicicleta, de jumento, ou de qualquer coisa”.
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