Mara Bergamaschi
Quem diria: o futebol, ópio do povo, virou, nesta Copa no Brasil, combustível que alimenta o debate político. E os xingamentos à presidente Dilma no Itaquerão, em São Paulo, elevaram ainda mais a temperatura das discussões.
Não pretendo voltar a isso, já exaustivamente comentado, com bom senso ou sem nenhum, mas tão somente dar, a partir deste fato, uma olhadinha em volta – no tal contexto em que tudo se insere.
Estamos a pouco mais de três meses das eleições e, como sinalizam desde 2013 as manifestações críticas à Copa, parece ter se esgotado entre nós a eficácia da consagrada fórmula “pão e circo”.
O comportamento dos torcedores, que na hora H festejam a seleção, os visitantes e o país, mas não seus mandatários, é a expressão, desrespeitosa ou não, dessa insubmissão. Jogo é jogo; urna é urna. É este cenário que também se reafirma a cada divulgação de pesquisas pré-eleitorais.
Com ou sem gol de Neymar, persistem a insatisfação da maioria com a economia e as políticas de educação, saúde, segurança; o desejo de mudança e a recusa de boa parte do eleitorado, enquanto o voto útil não vem, a se encaixar no velho maniqueísmo governo x oposição.
O interessante é que os que estão no poder – e, portanto, têm muito a perder - insistem em recorrer a um modelo superado para interpretar a conjuntura atual. Só assim, com os olhos no passado, é possível entender a reação do comando petista, que optou por ressuscitar a pregação contra “a elite branca de São Paulo” – agora identificada como responsável pelas agressões verbais à presidente durante a abertura do Mundial.
Estratégia perigosa, pois ainda que fosse dos “ricos” a voz majoritária no Itaquerão – o alto preço dos ingressos é uma das contradições desta Copa -, talvez ela refletisse e ecoasse além de si mesma. Só pra lembrar: segundo a última pesquisa DataFolha, se a eleição ocorresse apenas entre os quase 32 milhões de eleitores de São Paulo, a presidente, cuja rejeição chega a 46% no Estado, seria vencida facilmente pelos seus dois principais adversários num eventual segundo turno.
Mesmo que se mantenha hoje como favorita nacionalmente, Dilma não pode se dar ao luxo de não tentar conquistar o maior colégio eleitoral do país, cujo governo seu partido também disputa. No quadro atual, há risco de danos colaterais: a virulenta resposta do PT pode sim ser explorada como desprezo e discriminação contra São Paulo, dificultando ainda mais a reversão de votos no Estado.
Enfim, se a tal “elite branca” destilou ódio, o PT, como em outros episódios, não agiu muito diferente. E claro: culpou, como sempre, a imprensa, inclusive atacando nominalmente jornalistas. Isso apesar de a categoria ter, quase em bloco, defendido Dilma e condenado o VTC. Imagina na campanha.
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