Vitor Hugo Soares
Esta semana, na Bahia, a realidade mais uma vez superou a farsa (no sentido estrito que a expressão tem no teatro e na TV). Para comprovar, basta ver as fotos oficiais distribuídas pela Secretaria de Comunicação do Governo Jaques Wagner sobre o "comício" que marcou, quarta-feira, 11, a entrada do Metrô de Salvador na fase inaugural de "operação assistida", com a presença da presidente da República, Dilma Rousseff.
As imagens foram produzidas um dia depois do "palanque" gratuito de propaganda em rede nacional de rádio e televisão. A título de pronunciamento presidencial sobre a realização da Copa do Mundo no Brasil (evento planetário aberto quinta-feira em São Paulo sem um "boa tarde" de Dilma sequer, inútil tentativa de escapar de vaias).
Na mais mostrada fotografia em Salvador, vê-se uma sorridente Dilma na cabine de maquinista, no aparente comando do metrô que ela entregou aos soteropolitanos em meio aos improvisos de praxe que tem marcado sua gestão. Apenas sete quilômetros de trilhos (dos 14 previstos na primeira etapa) e quatro estações em funcionamento, depois de 14 anos de obras e mais de R$ 1 bilhão enterrados em vários governos e campanhas eleitorais.
Viagem inaugural do metrô de Salvador. Foto: Manu Dias
Dilma aparenta estar tranqüila e feliz na Bahia. Sem os tiques e toques denunciadores de tensão, medo e raiva que ela exibiu alternadamente nos diferentes momentos em que foi flagrada por câmeras inclemente de TV na tarde incandescente e histórica do Itaquerão. Uma data de nunca esquecer. Para o bem ou para mal.
O governador Jaques Wagner está ao lado da presidente, na cabine do metrô "enfeitado" inesperadamente com tinta vermelha – como pedia a festa petista – sobre seu original tom “azul cobalto”.
Em outra imagem, feita minutos antes de sentar na cadeira de comando da locomotiva, a presidente aparece abraçada ao companheiro de partido, governador do Estado, que não se candidatou a nada, em 2014, para dedicar-se inteiramente à tarefa de coordenador, no Nordeste, da campanha de reeleição da atual ocupante do Palácio do Planalto.
Diante das fotografias da Secom-BA, estampadas nos jornais e blogs locais, é praticamente impossível não lembrar do programa Zorra Total, o humorístico semanal da TV Globo, sucesso nacional há tempos.
Principalmente da personagem "Dilmaquinista", um dos quadros de maior apelo popular da engraçada atração dos sábados à noite na TV.
Na festa política quase particular - com a área cercada de seguranças por todos os lados - proibida a participação popular, mas aberta aos maiorais do PT e aliados governista de todas as plumagens, boa parte ex-carlistas -, o próprio Wagner se encarregou de fazer a associação. Afinal, fora dele próprio a idéia e sugestão de fazer a companheira sentar na cadeira de comando do trem, como uma Dilmaquinista da vida real.
“Tem um programa de televisão que colocaram uma figura muito simpática conduzindo o trem Brasil. Aí eu perguntei: presidenta, posso lhe pedir uma coisa, a senhora pode sentar na cabine do metrô? Ela sentou e estava uma graça conduzindo o metrô de Salvador”, disse governador em seu discurso.
Risos, palmas. De aliados e claque presentes.
Estava formado então o cenário de Zorra Total político-eleitoral encenado no começo desta semana em Salvador. "No clima da pré campanha, com direito a "baianas", Olodum e Ilê Aiyê. E a presidente caprichou na interpretação. Em sua fala, fez graça até com o apelido de "calça curta", dado pela população ao metrô em fase experimental.
"Mas estamos inaugurando aqui o "metrô calça comprida", porque a linha vai ter continuidade. Nós já temos recursos inteiramente reservados para continuidade da linha 1”, registra a Tribuna da Bahia sobre a fala da presidente na festa baiana.
Ainda bem, respiram mais aliviados os soteropolitanos atravancados em uma das capitais brasileiras mais caóticas em termos de mobilidade urbana do Brasil. Já imaginaram o que seria a presidente dizer agora - já com a sua campanha de reeleição a pleno vapor, apesar das vaias e insultos de quinta - feira em São Paulo – que vai faltar dinheiro para concluir a primeira etapa de uma obra que se arrasta há quase uma década e meia?
Para completar, Dilma, batizada pelo ex-presidente Lula de "mãe do PAC", quando comandava a Casa Civil do governo petista, chamou o ex-secretario Rui Costa, que Wagner empurrou como candidato à sua sucessão, "Pai do PAC na Bahia" na festa do metrô.
Costa carrega a lanterna nas pesquisas de intenção de voto entre os três principais candidatos ao Palácio de Ondina. Com 9% de aceitação popular, segundo o IBOPE, perde para Paulo Souto, do DEM, com 40%, e a socialista Lídice da Mata, com 11%.
Zorra Total é pouco. Ou não?
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