domingo, 6 de julho de 2014

A COPA NÃO É DELA

Mary Zaidan

Animação geral, bandeiras, emoção. Dentro de campo e nas ruas, tudo é festa só. Até a alegria coletiva a campanha de Dilma Rousseff tenta transformar em feito de seu governo. “Derrotamos os pessimistas que diziam não haver possibilidade, a menor que fosse, de dar certo a Copa do Mundo aqui. Deu certo e mostrou um País alegre, que sabe receber os turistas”, disse a presidente na sexta-feira, em Porto Alegre, pouco antes da vitória da seleção sobre a Colômbia.

Embalada pela pesquisa Datafolha que lhe conferiu 4 pontos a mais depois do início da Copa, Dilma ocupa todos os espaços para associar sua imagem ao evento. Insufla o ufanismo e pesa na crítica aos adversários, os pessimistas, que acusa torcerem pelo “quanto pior, melhor”.

Vangloria-se dos aeroportos que funcionam (vários deles entre tapumes), dos estádios que ficaram prontos (alguns com gambiarras), como se isso não fosse exigência mínima para a realização de um evento para o qual o País teve sete anos para se preparar. Fala como se seus opositores estivessem torcendo contra o Brasil – a seleção e o País.



Esquece-se, por esperteza ou má fé, que as reais campanhas contra a Copa vinham de movimentos sociais adulados pelo governo. Alguns deles de estimação, como o MTST, com o qual a presidente negociou a inclusão no programa Minha Casa Minha Vida, depois de visitar a invasão batizada de Copa do Povo, próxima ao Itaquerão.

E trata como birra de quem teria “complexo de vira-lata” qualquer crítica ao Mundial.

Mas nada – nem o desejado hexa – será capaz de esconder a orgia de gastos que por antecipação assegurou ao Brasil o título da Copa mais cara já realizada. Só as 12 arenas custaram R$ 8 bilhões, 285% acima dos R$ 2,8 bilhões fixados em 2007. Mais do que o dobro dos R$ 3,2 bilhões da África do Sul e dos R$ 3,6 bilhões da Alemanha. Sem computar o legado muito aquém do prometido: das 100 obras previstas, mais da metade não estão prontas e 20% ficaram para as calendas.

Futebol é futebol, eleição é eleição. Misturá-los, como faz a campanha de Dilma, é aposta de risco.

Não existe jogo fácil; não existe mais bobo no futebol. É o que se diz, com provas. Basta ver as zebras como as quedas prematuras de Portugal, Espanha e Inglaterra, e as dificuldades de seleções fortes como a Alemanha, Argentina e Brasil. Tudo pode acontecer, até a injustiça de deixar de fora da Copa o craque Neymar, vitimado pela violência, pelo anti-jogo.

Agora, a força total é para que a seleção brasileira despache a Alemanha e parta para o hexa, colorindo o Maracanã de verde-amarelo no próximo domingo. Três dias depois, rompe-se a união e o futebol retorna ao digladio das torcidas no Brasileirão.

Nada que se conecte com as urnas.

Não existe eleição fácil. Nem o povo é bobo. Dilma finge não saber

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