Gostaria de chamar você para uma reflexão sobre o PT e o PSDB que governam o país há quase vinte anos e a conduta dos dois ex-presidentes, personagens importantes na história do Brasil nas últimas décadas, depois que deixaram o cargo. Lula, o mais populista, e FHC, o mais aristocrático, voltam à cena política este ano cada um com seus representantes na disputa presidencial. Uma coisa, porém, tem me chamado a atenção no perfil desses dois políticos. Lula, por exemplo, desde que largou a presidência luta para evitar outras condenações de seus ex-colaboradores por crimes diversos contra a administração pública no período do seu governou. Deixou, sem dúvida, um rastro desabonador à sua conduta como presidente e apagou do seu currículo a ética e o combate a corrupção que tanto apregoou antes de chegar ao poder.
Desde que saiu do governo, Lula já intercedeu junto ao STF para melar o processo dos mensaleiros, negou conhecer todas as gatunagens da sua administração e tem se esforçado para que os escândalos não enlameiem mais ainda a sua biografia. Mas a julgar por sua última intervenção, o país só tem a lamentar. Agora, o ex-presidente pressionou o Tribunal de Contas da União para livrar a Dilma de uma condenação. Pediu e conseguiu que ela não fosse incluída no relatório final do ministro José Jorge, ex-pefelista, que responsabilizou onze diretores e o ex-presidente da Petrobrás, José Sérgio Gabrielli, pela compra superfaturada da refinaria de Pasadena, no Texas.
Lula vem usando o tempo disponível para evitar ou até tirar da cadeia seus auxiliares. Dessa vez obteve êxito. Como pernambucano, apelou para os conterrâneos José Jorge e José Múcio, também ministro do TCU, seu ex-chefe da Casa Civil, para que a Dilma fosse isentada de responsabilidade da compra da refinaria superfaturada, já que ela presidia o Conselho da Petrobrás à época e tinha poder de veto para impedir o negócio. Infelizmente, é esse o passa tempo do Lula desde que deixou o governo: impedir a prisão ou a condenação de seus ex-auxiliares.
Essa é a diferença de princípios entre Lula e FHC. Se eu estiver errado me corrija, por favor. Desde que deixou a presidência da República, Fernando Henrique Cardoso tem viajado frequentemente para o exterior. Leciona nas melhores universidades do mundo e se dedica com prazer a escrever livros sobre política e sociologia. Percorre o país fazendo análises econômica e política, escreve artigos para jornais, dirige o instituto com o seu nome, mantém um site com seus trabalhos acadêmicos e é convidado para aberturas de grandes conferências na companhia dos maiores estadistas do planeta.
FHC não se dedica, ao que me consta, a limpar seu nome em processos na Justiça nem nomes de seus ex-auxiliares. Dedica-se, isto sim, em tempo integral, ao que gosta de fazer: pensar e aprofundar teses sobre os problemas sociais, políticos e econômicos do Brasil e do mundo nos seus estudos como professor e escritor, debatendo-os no idioma local nas mais conceituadas universidades da Europa e dos Estados Unidos. Grandeza, é isso pelo menos que o Brasil espera dos seus ex-governantes.
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