FERNÃO LARA MESQUITA
Os 298 homens, mulheres e crianças mortos por um míssil russo disparado contra o Boeing 777-200 de passageiros da Malaysian Airlines na Ucrânia estavam arrumando as malas para embarcar no fatídico vôo MH17 quando a presidente Dilma Rousseff assinou, ao lado de Vladimir Putin, a declaração conjunta da 16a Reunião de Cupula dos BRICS, em Brasilia, afirmando que “Somos reconhecidos por nossa atuação autônoma no plano internacional em favor de um mundo mais justo, mais próspero e pacífico”.
Menos de quatro meses antes desta honesta declaração Vladimir Putin, sem mais aquela, tinha mandado os seus “black blocs” – tropas do exército nacional russo devidamente mascaradas e sem identificação mas conduzindo tanques e portando armamento pesado – invadir e tomar a Criméia, parte do território da Ucrânia, outro dos ex-anexados à “Cortina de Ferro” soviética que, para prevenir recidivas do vizinho “entrão“, preparava-se para aderir à União Européia.
Desde então, nas palavras do secretário de Estado norte-americano John Kerry, ele “vem apoiando, abastecendo, encorajando, armando e treinando” os supostos “guerrilheiros separatistas” ucranianos que querem tomar mais um pedaço daquele país para anexá-lo à Russia que, 24 horas após a saída de Putin de Brasilia, derrubaram o avião malaio e seus 298 passageiros com um ou mais disparos de mísseis Buk fornecidos por Moscou.
Enquanto os corpos despedaçados das vítimas dos aliados de Putin despencavam dos céus da Ucrânia, dona Dilma recebia, como hóspede especial da Granja do Torto, uma das residências oficiais da Presidência da República, ninguém menos que Raul Castro, da dinastia dos proprietários daquela ilha cheia dos “prisioneiros comuns” a quem Lula nega uma palavra de apoio humanitário que seja mesmo quando, minados pela tuberculose, estão morrendo em greves de fome.
Castro chegou um dia depois da partida de Putin para participar da Reunião de Cupula Brasil-China e Líderes Latino-americanos e do Caribe do Itamaraty que pretende articular as relações econômicas dos próceres do “excesso de democracia” bolivarianos do continente com outro campeão mundial dos direitos humanos, o chinês Xi Jimping, interessado em “ampliar a presença comercial e política da China nas Américas Central e do Sul e no Caribe” que, no jargão desse pessoal, resume-se a Cuba.
Não cobro de Dilma que anteponha ideologia a interesses comerciais nem que confunda governantes com os povos que eles supostamente representam. Como representante de um país ela tem de se relacionar com todos, ou ao menos com todos os que estiverem dentro dos limites da decência humanitária.
Mas é precisamente isso que ela não faz. São estes que ela exclui por razões alheias, tanto às de Estado, quanto às de pragmatismo comercial.
Não é por acaso que estiveram representados em Brasilia e privando da intimidade e das homenagens especiais da presidente do Brasil apenas e tão somente representantes das diversas etapas de desenvolvimento da “hiperdemocracia” que o PT declara todos os dias que pretende impor ao país.
O ex-chefe da polícia política soviética que, desde 1999 quando se tornou primeio-ministro pela primeira vez, vem governando a Russia diretamente ou por interpostos “postes” escalados para substituí-lo entre mandatos com métodos semelhantes aos da máfia, como de resto eram os adotados pela KGB, ostenta em seu currículo, multiplicado por milhões, todos os feitos de um delegado Fleury, o antigo chefe do Doi-Codi onde Dilma passou dias memoráveis.
Devidamente repaginado para os tempos do capitalismo de Estado selvagem e sem fronteiras, ele já se tem servido de diversos dos ingredientes que o PT inclui em seu programa oficial.
Na sua Russia não existe imprensa nem muito menos televisão sem “controle”; blogueiros são obrigados a se registrar no Ministério das Comunicações como quer o tio Franklin; sites são fechados por publicar comentários como este que você está lendo; pessoas são presas por protestar contra o regime; as antigas ONGs estão restritas aos atuais “Gongos”, da sigla em inglês para “Government Organized Non Governmental Organization”, exatamente equivalentes aos “movimentos sociais” com os quais o PT quer dividir, com exclusividade, o governo do Brasil segundo reza o Decreto 8.243, ainda vigente; os “campeões nacionais” dos setores básicos e/ou estratégicos da economia são criados pelo governo e dependem dele para sobreviver, monopólios estes de cuja boa vontade, por sua vez, dependem todos os outros empreendedores e trabalhadores do país, seja para vender-lhes sua produção, seja para comprar-lhes insumos para os seus produtos, seja para dar-lhes o emprego sem os quais todos eles podem acabar condenados à morte econômica.
Quanto aos genocidas e psicopatas do mundo sentados em tronos, fardados ou não, de Bashar Al Assad, o envenenador, aos mais pitorescos trogloditas da África e da Ásia, ele, com as prerrogativas de um membro permanente do Conselho de Segurança da ONU, dá o mesmo tratamento que o PT reserva a essa mesma grei: tapinhas nas costas e posição fechada contra qualquer boicote, represália ou ação militar que lhes tolha a sede de sangue de modo a que matem até o último dos seus “oposicionistas” ou anexem o último dos seus cobiçados “satélites”, tudo sempre em nome da democracia e da paz.
Para os demais reservam as leis que não acatam…
O Brasil poderá alegar tudo menos que não sabia com quem estava lidando, portanto, se voltar a eleger o PT em outubro, fato que certamente resultaria em que ninguém mais pudesse ser eleito por muitos e muitos anos nestas terras, exatamente como acontece nas de todos os convidados preferenciais da Granja do Torto e cercanias nestas ultimas trágicas semanas.
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