Ruy Fabiano
Num país de política degradada, falar mal dos políticos dá ibope e prestígio, embora não necessariamente rumo. Esse é o filão, até aqui, explorado por Marina Silva, candidata do PSB (melhor dizendo, da Rede) à Presidência da República.
Delicadeza nem sempre é sinônimo de ponderação, e Marina não apenas sucede Campos, mas lança, em tom sempre suave, tropas de ocupação sobre o PSB para colocá-lo à margem do comando da campanha.
A tragédia de Eduardo Campos colocou o partido numa encruzilhada: ou abdicava da campanha, como queria seu presidente Roberto Amaral, ou entregava-se a uma interventora, com votos, mas sem compromissos com a legenda. Optou pela segunda e tornou-se órfão de si mesmo.
A “nova política” vem revestida dos traços da velha: quebra de compromissos (os compromissos de Eduardo Campos), imposição da vontade monocrática da candidata, ausência de diálogo, oportunismo em seu sentido mais amplo.
Para acalmar o setor financeiro, há uma banqueira, Maria Alice Setúbal, do Banco Itaú; para agradar os ambientalistas, o ex-tucano Walter Feldman; para atrair as esquerdas, há a sigla PSB; e para confundir a todos, a candidata, Marina Silva, com seus novos (e desconhecidos) “paradigmas civilizatórios”.
Já se sabe que Marina defenderá a independência do Banco Central, embora tenha incumbido uma banqueira de dizê-lo, sem levar em conta o conflito de interesses em tê-la como porta-voz numa questão em que é parte interessada. Coisas da nova política.
Sabe-se também que é favorável ao decreto 8.243, que coloca os “movimentos sociais” como co-gestores do Estado, transformando o Congresso numa instância meramente homologatória. O que o mercado financeiro acha disso? E o que os movimentos sociais acham da independência do Banco Central?
Marina anda com os dois a tiracolo, mas não explica como os conciliará. É possível que na nova política isso não seja necessário. Todos serão compreensivos e abdicarão de seus interesses.
Quer o desenvolvimento sustentável, em que o progresso não agrida o meio ambiente, mas até aqui não incluiu um único representante do setor produtivo rural em seu staff.
Ao contrário, ao chegar ao PSB, fez questão de desfazer as alianças rurais que Eduardo Campos vinha construindo, expulsando da campanha o deputado Ronaldo Caiado (DEM-GO). Se chegar à Presidência, fará o mesmo com o agronegócio, que é hoje o sustentáculo da combalida economia nacional?
E as alianças eleitorais que Campos articulou, em São Paulo, Paraná e Rio de Janeiro? O que fará com elas, já que as condenou desde o nascedouro, absorvendo-as por imposição do PSB? Agora, sem Campos, quem manda é ela, não o partido.
Não são poucas as indagações que a candidata terá que responder – e ainda não deu sinais de que irá fazê-lo. O ativismo, dentro do qual se projetou para a política, admite e requer o uso intensivo de adjetivos e slogans. Mas a política, sobretudo quando se postula a Presidência da República, requer substantivos.
É necessária uma visão universalista dos problemas. Elege-se por um partido (ou por uma Rede), mas governa-se para todos. O ativismo elege vilões para ressaltar os heróis, mas a política é feita por heróis e vilões, sendo que não se sabe exatamente quem é quem: os vilões de uns são os heróis de outros.
Marina cunhou a expressão “sonháticos”, aqueles que querem romper velhos padrões e introduzir o novo não apenas no país, mas na própria humanidade. Nem isso é novo: Hitler, Stalin, Mao Tsé-Tung e outros “sonháticos” também queriam forjar um “novo Adão”. Deu no que deu.
Política é pé no chão e cabeça nas nuvens, como já disse alguém de que não me lembro. Falta a Marina os pés no chão. Restam ainda dois meses de campanha, tempo mais que suficiente para que aterrisse os seus e explique o que há de novo e factível em sua política.
Leia a integra em A política da antipolítica
A candidata do PSB Marina Silva - Foto: Fernando Donasci / Agência O Globo
Num país de política degradada, falar mal dos políticos dá ibope e prestígio, embora não necessariamente rumo. Esse é o filão, até aqui, explorado por Marina Silva, candidata do PSB (melhor dizendo, da Rede) à Presidência da República.
Delicadeza nem sempre é sinônimo de ponderação, e Marina não apenas sucede Campos, mas lança, em tom sempre suave, tropas de ocupação sobre o PSB para colocá-lo à margem do comando da campanha.
A tragédia de Eduardo Campos colocou o partido numa encruzilhada: ou abdicava da campanha, como queria seu presidente Roberto Amaral, ou entregava-se a uma interventora, com votos, mas sem compromissos com a legenda. Optou pela segunda e tornou-se órfão de si mesmo.
A “nova política” vem revestida dos traços da velha: quebra de compromissos (os compromissos de Eduardo Campos), imposição da vontade monocrática da candidata, ausência de diálogo, oportunismo em seu sentido mais amplo.
Para acalmar o setor financeiro, há uma banqueira, Maria Alice Setúbal, do Banco Itaú; para agradar os ambientalistas, o ex-tucano Walter Feldman; para atrair as esquerdas, há a sigla PSB; e para confundir a todos, a candidata, Marina Silva, com seus novos (e desconhecidos) “paradigmas civilizatórios”.
Já se sabe que Marina defenderá a independência do Banco Central, embora tenha incumbido uma banqueira de dizê-lo, sem levar em conta o conflito de interesses em tê-la como porta-voz numa questão em que é parte interessada. Coisas da nova política.
Sabe-se também que é favorável ao decreto 8.243, que coloca os “movimentos sociais” como co-gestores do Estado, transformando o Congresso numa instância meramente homologatória. O que o mercado financeiro acha disso? E o que os movimentos sociais acham da independência do Banco Central?
Marina anda com os dois a tiracolo, mas não explica como os conciliará. É possível que na nova política isso não seja necessário. Todos serão compreensivos e abdicarão de seus interesses.
Quer o desenvolvimento sustentável, em que o progresso não agrida o meio ambiente, mas até aqui não incluiu um único representante do setor produtivo rural em seu staff.
Ao contrário, ao chegar ao PSB, fez questão de desfazer as alianças rurais que Eduardo Campos vinha construindo, expulsando da campanha o deputado Ronaldo Caiado (DEM-GO). Se chegar à Presidência, fará o mesmo com o agronegócio, que é hoje o sustentáculo da combalida economia nacional?
E as alianças eleitorais que Campos articulou, em São Paulo, Paraná e Rio de Janeiro? O que fará com elas, já que as condenou desde o nascedouro, absorvendo-as por imposição do PSB? Agora, sem Campos, quem manda é ela, não o partido.
Não são poucas as indagações que a candidata terá que responder – e ainda não deu sinais de que irá fazê-lo. O ativismo, dentro do qual se projetou para a política, admite e requer o uso intensivo de adjetivos e slogans. Mas a política, sobretudo quando se postula a Presidência da República, requer substantivos.
É necessária uma visão universalista dos problemas. Elege-se por um partido (ou por uma Rede), mas governa-se para todos. O ativismo elege vilões para ressaltar os heróis, mas a política é feita por heróis e vilões, sendo que não se sabe exatamente quem é quem: os vilões de uns são os heróis de outros.
Marina cunhou a expressão “sonháticos”, aqueles que querem romper velhos padrões e introduzir o novo não apenas no país, mas na própria humanidade. Nem isso é novo: Hitler, Stalin, Mao Tsé-Tung e outros “sonháticos” também queriam forjar um “novo Adão”. Deu no que deu.
Política é pé no chão e cabeça nas nuvens, como já disse alguém de que não me lembro. Falta a Marina os pés no chão. Restam ainda dois meses de campanha, tempo mais que suficiente para que aterrisse os seus e explique o que há de novo e factível em sua política.
Leia a integra em A política da antipolítica
A candidata do PSB Marina Silva - Foto: Fernando Donasci / Agência O Globo
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