No esforço de combater as evidências de fraude na CPI, petistas partem para a delinquência política. A propósito: cadê o ar da Graça?
Por Reinaldo Azevedo
A esta altura, está claro que a farsa armada na CPI da Petrobras no Senado, que envolveu parlamentares do PT, o governo e o comando da Petrobras, constitui uma grave agressão à democracia, ao Poder Legislativo e ao estado de direito. Tenham clara uma coisa, leitores: da forma como se deu a tramoia, estamos diante de algo inédito. O PT desce a um novo patamar da degradação institucional a que submete o país há 12 anos. A direção do Senado mandou abrir uma sindicância para apurar o caso. Nesta terça, surgiram novas evidências de que o comando da operação esteve mesmo no Palácio do Planalto, mais especificamente aos cuidados de dois assessores diretos do ministro Ricardo Barzoini, da Secretaria de Relações Institucionais: Luiz Azevedo e Paulo Argenta. Tudo conforme denunciou reportagem da VEJA, que veio a público no sábado.
Graça Foster, presidente da Petrobras, uma das beneficiárias da tramoia e em cujo gabinete se deu uma das reuniões que cuidaram da farsa, está muda. E impressionam tanto o discurso como o comportamento indecente dos petistas nesta terça-feira. Contra todas as evidências, contra os fatos, o senador Humberto Costa (PE), líder do PT, chamou a denúncia de “ajuntamento de tolices” e afirmou ser “absolutamente natural que haja trocas de informações institucionais entre as assessorias da CPI e as lideranças dos partidos”. Trata-se apenas de uma mentira. O que se viu não foram “trocas de informações”, mas fornecimento prévio das perguntas, com gabarito e tudo. José Pimentel (PT-CE), líder do governo no Congresso e relator da CPI, repetiu a conversa mole da Petrobras e afirmou que as perguntas já estavam no plano de trabalho da CPI e eram públicas. Infelizmente para a decência do Senado, isso também é mentira.
Mas ninguém, ninguém mesmo!, ofendeu o Congresso com tanta determinação como o governador da Bahia, Jaques Wagner, também petista. Um dos investigados na CPI é José Sérgio Gabrielli, ex-presidente da Petrobras e hoje seu secretário. Segundo Wagner, a “CPI é cena. Não é um delegado perguntando. É um monte de deputado que sabe que está sendo fotografado e filmado e que fazer aquela pergunta-chave”. Atentando contra uma das prerrogativas do Poder Legislativo, prevista na Constituição, disse ainda o petista: “Deputado não é treinado para investigar, mas para fazer julgamento político. Quem investiga é a Polícia Federal e Ministério Público, que são treinados para isso”.
Gilberto Carvalho, secretário-geral da Presidência, também decidiu refletir. Disse: “Só haveria farsa se houvesse a impossibilidade de qualquer senador fazer a pergunta que quisesse”. É um despautério. O senador fazer a pergunta que quiser é justamente a prerrogativa da qual os farsantes abriram mão. Observem que ele nem se ocupou de negar a tramoia.
A fala de Wagner não deixa de ser emblemática do que o PT fez com as comissões parlamentares de inquérito nestes 12 anos de poder — justamente o partido que tanto se beneficiou delas no passado: transformou-as em farsas. E, a depender de Wagner, serão extintas. A menos que seja para a legenda se vingar de adversários.
E foi o que fez o PT. Decidiu se apressar para instalar a CPI do Metrô em São Paulo. Que gente! O partido pretende que a mesma maioria empregada para fraudar a CPI da Petrobras seja usada agora para atacar os tucanos. Em qualquer dos dois casos, não quer investigar nada, mas fazer baixa política. A propósito, pergunto: a CPI petista vai investigar as evidências de cartel, que estão sendo apuradas até no Cade — hoje uma repartição da legenda — na construção dos metrôs de Belo Horizonte e Porto Alegre, ambos tocados por estatais federais, controladas pelo partido?
Encerro com um enigma: o tempo dirá se o PT ainda não vai se arrepender de ter criado essa CPI do Metrô. É esperar para ver.
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