SOBRE FRAUDES E FARSAS
Mary Zaidan
Certeza da impunidade, ingenuidade, burrice. Por mais que se tente, não há explicação plausível para o fato de alguém, em um computador do Palácio do Planalto, incluir trechos mentirosos e aviltantes nos perfis dos jornalistas Míriam Leitão e Carlos Alberto Sardenberg na Wikipédia. E será preciso mais do que emitir notas oficiais de repúdio e arranjar aloprados para que a Presidência da República consiga se safar.
As idas e vindas do Planalto, em apenas um dia, são provas disso.
De pronto, afirmaram não ser possível detectar a máquina de origem do crime porque os arquivos tinham sido apagados. Não convenceram nem os leigos. Depois, foram publicamente desmentidos: as impressões de uso de computadores sempre deixam rastros, indicando até mesmo quem as apagou. Mais tarde, vieram os panos quentes. Por ordem da Secretaria-Geral da Presidência, decidiu-se por uma investigação rápida – de até 60 dias – com a promessa de punição severa aos culpados.
Mas o estrago está feito: as mentiras, as ofensas, o desprezo à democracia saíram do Palácio que abriga o gabinete da presidente Dilma Rousseff.
E tem as digitais do PT. O mesmo partido que, recentemente, usou computadores da Prefeitura de Guarulhos, que domina há 14 anos, para criação de perfis falsos do candidato adversário Aécio Neves (PSDB).
Não se pode afirmar que o partido da presidente esteja por trás do episódio dos colunistas, embora o ódio da sigla por jornalistas não-alinhados seja credencial para desconfianças. Até porque não é um caso isolado, muito menos o primeiro.
Basta lembrar que há pouco mais de um mês, o vice-presidente nacional da legenda, Alberto Cantalice, elaborou uma lista negra com jornalistas que considerou “pitbulls da grande mídia”. E que o ex Lula, discurso sim e outro também, achincalha a imprensa, responsável por todos os males de acordo com o evangelho petista.
Até Dilma já não confessa a mesma fé na liberdade de expressão quando considera seus críticos aves de mau agouro.
Cada vez mais intolerante com aqueles que dele divergem e sem conseguir ambiente para controlar a mídia, algo que tenta desde o primeiro mandato de Lula, o PT tem intensificado sua guerrilha contra a imprensa. Arma-se a partir de um pêndulo de compensação: quanto mais o governo Dilma perde pontos de popularidade, mais aumenta o tom da briga, demonizando o noticiário, distorcendo fatos.
Reescreve a história à sua maneira, ainda que por meio de fraudes.
Mas, assim como as calúnias que incluíram nos perfis da internet, mais cedo ou mais tarde a farsa sempre vem à tona.
A democracia agradece.
Mary Zaidan é jornalista. Trabalhou nos jornais O Globo e O Estado de S. Paulo, em Brasília, e na Agência Estado (SP).
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