sábado, 13 de setembro de 2014

A MORAL E AS URNAS


Ruy Fabiano

Mais chocante que as revelações de Paulo Roberto Costa, ex-diretor da Petrobras na Era PT, é ausência de efeitos concretos sobre a campanha eleitoral. Ao que parece, não houve tempo para que o eleitor avaliasse a extensão e gravidade do que foi dito.

Há ainda a esperança der que na quarta-feira próxima, na CPMI da Petrobras, ele acrescente mais revelações. Mas o procurador da República, Rodrigo Janot, não só já avisou que não revelará o depoimento de Costa, como é contrário à sua ida à CPMI. Um procurador, enfim, que não procura nada.

Costa, funcionário de carreira da Petrobras, ascendeu, no período Lula, à cúpula da estatal. Ocupou a diretoria de Refinaria e Abastecimento, cujos cofres passou a violar, seguindo as orientações da cúpula política do PT, providenciando propinas de negociatas bilionárias, que abasteciam os cofres dos aliados.

Foi o Marcos Valério do Petrolão. O dinheiro comprava lideranças políticas dos partidos aliados, para garantir a maioria governista no Congresso. Mensalão 2, como disse Aécio Neves.

Em seu depoimento, Costa garantiu que Lula sabia de tudo e despachava frequentemente com ele. Dilma foi, nesse período – que durou de 2003 até 2012 – ministra de Minas e Energia, presidente do Conselho da Petrobras e presidente da República. Não sabia de nada, como seu antecessor. Mensalão 2, mais uma vez.
O que até aqui se sabe é pouco. Presume-se que o que vazou corresponda ao que se pode provar, já que delação premiada só funciona na medida em que o delator forneça indícios concretos do que diz. Caso contrário, não recebe os benefícios. Há, portanto, muito mais, ainda por se conhecer.

Porém, o que já se sabe seria suficiente, num país normal, para causar um abalo sísmico na campanha. Não causou. Dilma, ao contrário, recuperou alguns votos e persiste na liderança. Seus antagonistas não têm sido brilhantes em dimensionar o delito em pauta, já que o público não demonstra o espanto que se esperava.

Abstenho-me de me aprofundar nos crimes revelados, que já consumiram páginas e páginas de jornais e revistas, que poucos leem. Intriga-me a indiferença do público. Se a Justiça Eleitoral não tivesse impugnado a candidatura de José Roberto Arruda, ele provavelmente seria o próximo governador de Brasília.

As denúncias sobre seu passado recente – inclusive o de ter sido apeado do governo que agora queria reocupar – estão na memória de todos. Não obstante, era o favorito. “Rouba, mas faz”, dizem seus eleitores. Os de Dilma dirão o quê?

Quando Lula foi reeleito, em pleno vendaval do Mensalão, a economia ia bem, o crédito bombava e as bolsas sociais exerciam seu efeito anestésico sobre a população mais carente. Essa circunstância sobrepôs-se ao ambiente de degradação moral exposto pelo Mensalão. Prevaleceu o bolso.

Agora, porém, a economia vai mal, a inflação voltou, o crédito está inacessível e, mesmo assim, as denúncias não colam. O que parece ocorrer é o descrédito geral em relação ao que vem do meio político. Os escândalos banalizaram-se.

Fazem parte do roteiro. Há aí uma tese sociológica a aprofundar – e que, por óbvio, não cabe num artigo, nem cabe a um jornalista. O povo não toma mais conhecimento de escândalos e prefere votar em quem lhes concede benefícios, ainda que parcos, como o Bolsa-Família. Não quer trocar o “certo” pelo duvidoso – e duvidoso tornou-se tudo aquilo que os políticos lhe prometem e não tem curso consagrado na vida real.

Marina e Aécio são promessas – e o povo, ao que parece, já não acredita em promessas de políticos. Dilma é ruim, mas já é conhecida. Esse o ponto de vista que se capta em conversas com motoristas de táxi, ambulantes e pessoas que descreem do futuro e preferem raciocinar tendo em vista o dia a dia.

Não há sentimento moral – pelo menos não se aplica às eleições. Como mudar isso? Insistindo, apesar de todos os pesares, na educação política do povo. Mas quem quer isso? O apelo a temas de natureza religiosa, comum nesses momentos, não é gratuito: parece ser o ponto vulnerável dos petistas.

E há aí um paradoxo: o mesmo povo, insensível aos desmandos dos políticos, comove-se com temas religiosos, cuja essência é de ordem essencialmente moral.

Aborto, casamento gay, legalização das drogas, nada disso depende diretamente do presidente da República. São causas que se resolvem no Congresso – e, portanto, deveriam estar sendo dirigidas aos candidatos ao Legislativo. Mas ninguém se preocupa com eles, nem eles têm tempo (ou qualificação) para explicar o que quer que seja. Dispõem de segundos no horário eleitoral.

O voto acaba sendo decidido por questões de profunda subjetividade, decorrentes da empatia que cada candidato transmite ao eleitor. Programas, projetos, compromissos passam ao largo. Essa, por enquanto, é a democracia que temos, sólida e perfumada como um flactus.

2 comentários:

  1. Realmente a indiferença do público intriga. E dói. Não se consegue entender tamanha inércia, nem Freud explica isso.
    Seu ponto de vista é esplêndido. Que pena que a moral do nosso povo se contaminou de tal modo que, talvez, já faça parte de toda essa corrupção que campeia no País.
    E, sendo assim, o povo não vê o lamaçal, porque já se envolveu nele até o pescoço.
    Que tristeza!
    Obrigada pelo espaço, Mara

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  2. Eu é que agradeço sua visita e o seu comentário, Mara.

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