domingo, 21 de setembro de 2014
AÉCIO: "NINGUÉM VAI ME MATAR NA VÉSPERA"
"Eu imaginava que, a essa altura, se tivéssemos feito tudo certo, estaríamos chegando a 30%", lembrou recentemente o presidenciável tucano, Aécio Neves. A duas semanas do primeiro turno, porém, ele tem 17% das intenções de voto e um diagnóstico: "Nós não erramos. Não houve um erro. Houve uma tragédia".
O acidente que matou o ex-governador Eduardo Campos (PSB) e trouxe à disputa a ex-senadora Marina Silva acabou empurrando Aécio para a eleição mais complexa de sua trajetória política. Rebaixado à terceira colocação, viu uma parcela de seus votos ser dragada pela nova adversária com rapidez.
"Eu levei uns dez dias para conseguir começar a avaliar o estrago eleitoral para mim, sabe?", comentou recentemente com um aliado. "Gostava muito do Eduardo e aquilo pegou forte. Lá em casa começou um papo meio inevitável de podia ter sido você'. Foi difícil. Pensei: Cara, tenho dois bebês em casa e não deixei nada organizado'. Que loucura, né?"
Há menos de dez dias, chegou a 14% nas pesquisas e viu pipocar boatos variados, alguns apontando, inclusive, a possibilidade de ele desistir. A interlocutores, classificou o raciocínio como "burrice"."Não vou desmentir isso. Vou continuar e vão ver que não faz sentido. Ninguém vai me matar de véspera", reagiu. Todos os dias, pedia "serenidade" a aliados e prometia reagir até 15 de setembro.
POLÍTICOS E AVES
Na semana passada, veio um suspiro. Aécio registrou um esboço de reação em duas pesquisas: passou de 15% a 19% no Ibope e de 15% a 17% no Datafolha. Mas guardou lições da fase mais adversa. Recorreu ao trovador mineiro Soares da Cunha para ilustrar uma delas. "Ele escreveu: Amigos são, todos eles, como aves de arribação. Faz bom tempo, eles vêm. Faz mau tempo, eles vão'. Diria que alguns políticos são assim."
Quando caiu nas pesquisas, Aécio viu sua arrecadação diminuir e teve que lidar com projeções constrangedoras de aliados sobre um segundo turno sem ele. Passado o impacto inicial da morte de Campos, viu que precisava reagir --ele e a presidente Dilma Rousseff (PT), que lidera a disputa. Ambos promoveram, de diferentes formas, ataques a Marina. O resultado começou a aparecer. A pessebista perdeu terreno em nichos importantes do eleitorado. Parte dos votos migrou para Aécio. Ele adotou o discurso de que começou a "virada".
A mudança no cenário virou assunto nas rodas políticas. Na última quinta-feira (18), aliados do candidato a senador pelo PMDB de Minas Gerais, Josué Alencar, discutiam, na sala de espera de uma empresa de táxi-aéreo em São Paulo, a situação do tucano. O vice-presidente da República, Michel Temer (PMDB), estava com eles. "Seria um milagre", comentavam, em conversa descontraída. "A situação é extremamente difícil. Até lá em Minas", avaliavam os peemedebistas. Minas é o berço político de Aécio, que já foi governador do Estado duas vezes.
Menos de dois minutos separaram o fim da conversa dos peemedebistas da chegada de Aécio à mesma sala de táxi-aéreo. O tucano apareceu já na hora do embarque, às 8h30. Trocou um abraço com Temer e entrou no jato que havia fretado para ir à Bahia.
SANTINHOS
Cerca de uma hora e meia depois, Aécio desembarcou em Ilhéus (BA) e pegou um helicóptero com o prefeito de Salvador, Antonio Carlos Magalhães Neto (DEM), seu aliado, rumo a Itabuna. Na aeronave, ACM Neto mostrava fotos de um evento que fez para seu candidato ao governo, Paulo Souto (DEM-BA)."Você colocou minha foto lá?", perguntou Aécio, aos risos."Claro."
ACM Neto desfruta de boa aprovação em Salvador e seu candidato ao governo deve ser eleito no primeiro turno. Mas na Bahia, como em todo o Nordeste, Aécio vai mal. Em Itabuna, eles foram ao encontro de candidatos a deputado. "Só eu tenho 15 milhões de santinhos com seu número", disse Jutahy Júnior (PSDB-BA). "Na reta final, a estrutura vai fazer diferença."
Os baianos prepararam quase que uma micareta para receber Aécio. "Vocês jogaram duro aqui, hein?", brincou ACM Neto ao ver a multidão. Aécio tentou caminhar, mas o assédio, especialmente o das mulheres, fez com que o levassem para um trio. De lá, disse que ninguém ganha eleição de véspera. Agradeceu a "lealdade" de ACM Neto e ouviu do prefeito: "Vai dar. Eu acredito".
(Matéria de Daniela Lima, para Folha de São Paulo)
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