terça-feira, 21 de outubro de 2014

DIFAMAÇÃO 2.0


Eduardo Graeff

Lula descomposto, puxando o coro de impropérios dos companheiros num comício em Belo Horizonte pode ser o ponto mais baixo desta campanha (ou não: eles ainda têm uma semana para mostrar o seu pior), mas não é um ponto fora da curva. Tem sido assim há muito tempo. Em algumas eleições, a baixaria deu certo. O tom de desespero se explica porque desta vez estão vendo que vão perder – as eleições, o poder e as vantagens indevidas do poder com as quais se acostumaram.

O PT faz com a difamação o mesmo que com a corrupção: não as inventou, mas turbinou. Levou-as a um novo patamar. E o faz pelas mesmas razões.

Antes do PT, os piores casos de corrupção tinham por protagonistas lideranças políticas individuais e suas curriolas. Esquemas perniciosos mas de alcance limitado no espaço e no tempo. O mais chocante nos escândalos recentes é que foram produzidos pela ação orgânica, sistemática, continuada de um partido político. E não um partido qualquer, mas um partido de massas com todo o seu lastro social, carga simbólica e vastos recursos materiais e humanos.

O estilo de “luta política” em que o PT se especializou tem essa mesma matriz. Ele mobiliza um exército de militantes profissionais ou semiprofissionais pagos com fundos do partido, seus satélites e aliados, sindicatos, ONGs, empresas estatais, tudo escoando, legalmente ou não (na maior parte, não), da mesma fonte: a fazenda pública. Aplica a dupla moral típica das sociedades secretas de fundo religioso, corporativo, político ou simplesmente criminoso: “nós”, os companheiros, aos quais tudo menos a delação é permitido, contra “eles”, os inimigos, contra os quais vale tudo. Doura a pílula dessa lógica beligerante, velha de milênios, com uma versão diluída mas nunca repudiada da mitologia revolucionária do século passado, que justificou todas as atrocidades cometidas por partidos e regimes socialistas e comunistas. Em nome dessa “missão histórica” autodelegada, abraça a via eleitoral como uma avenida de mão única, que pode levar à tomada do poder mas jamais à alternância, vista como um retrocesso inadmissível.

Denunciarmos tudo isso não vai mudar o PT, mas ajuda a lembrar por que estamos juntos com Aécio: porque não queremos revolução, e sim mudanças pacíficas pela via da democracia. Porque não apostamos na hegemonia de uma classe ou partido, e sim no pluralismo e na alternância do poder. Porque não acreditamos que a suposta nobreza dos fins justifica a baixeza dos meios, e sim na força transformadora da inteligência humana e do livre debate. Porque não nos achamos os salvadores da pátria, e sim representantes de partes dela, em sua diversidade, que hoje buscam formar uma maioria para mudar os rumos do governo. 

Porque não somos nem queremos ser como o PT, vamos combate-lo hoje e sempre que for preciso, com nossas armas. Com lucidez para entender as transformações e aspirações do Brasil real, sem querer encaixa-lo a força em moldes ideológicos vencidos. Com coragem para chamar a corrupção de corrupção, a mentira de mentira, a prepotência de prepotência. E com serenidade para não recorrer às mesmas armas do adversário nem nos deixarmos contagiar por sua fúria.

O PT não vai mudar nem acabar. Mesmo perdendo esta eleição, continuará sendo uma força importante. Nossos caminhos vão continuar se cruzando. Mesmo ganhando esta eleição, não vamos perder a disposição de dialogar com ele e quem ele representa, quando houver a menor chance de o diálogo trazer algo de bom para o Brasil.

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