Dilma e as variantes de “fazer o diabo”. Ou: Desafio a presidente a censurar publicamente resolução fascistoide do PT. Ela não o fará. Logo, seu diálogo é nada!
A Dilma como presidente é o que é; os números falam por si. A Dilma como pensadora assusta. Como esquecer de uma espetacular frase sua, disparada no dia 4 de março de 2013, durante uma solenidade em João Pessoa, na Paraíba? Refresco a memória de vocês: “Nós podemos disputar eleição, nós podemos brigar na eleição, nós podemos fazer o diabo quando é a hora da eleição. Agora, quando a gente está no exercício do mandato, nós temos que nos respeitar, porque fomos eleitos pelo voto direto do povo brasileiro”. Não é realmente um modo espetacular de propor a paz aos adversários?
Lula tinha feito “o diabo” para eleger Dilma. Desta feita, a própria Dilma piorou o diabo para se reeleger. E, a exemplo do que fez em 2013, também voltou a falar em diálogo, muito a seu modo. Numa solenidade com lideranças do PSD, em que pontificavam os ex-pefelistas Gilberto Kassab (presidente da legenda) e Guilherme Afif Domingos (que o PT já chegou a considerar um dos símbolos da “direita”), disse a represidenta:
“Desmontar os palanques significa perceber que, em toda democracia, disputam propostas e visões as mais diferentes, e isso é levado ao escrutínio popular. O povo considera o que será a proposta que ganhará majoritariamente apoio. Isso significa ter consciência do que é a democracia. Há que saber ganhar como há que saber perder”.
É verdade! Só acho éticas as vitórias humildes e as derrotas altivas — vale dizer: o que vence não procura esmagar o outro; o que perde não se humilha. Mas é esse o entendimento do PT? Sabem ganhar os que apostam nas instituições. Sabem perder os que não abrem mão de seus princípios. Sabem ganhar os que não fazem o diabo para vencer uma eleição. Sabem perder os que não se deixam cooptar.
Dilma foi além na exposição de um raciocínio que, lamento, chamarei de hipócrita. Afirmou:“Nosso compromisso é mudar o ritmo da discussão. Se o nosso ritmo era de mostrar as diferenças, nós agora temos que fazer a trajetória inversa. Isso ocorre em qualquer democracia moderna no mundo”.
“Isso” o quê? Errado! Em nenhuma democracia do mundo um partido político se apropriaria de uma política do Estado e ameaçaria os pobres com o fim da concessão de benefícios caso o mandatário não fosse reeleito. Em nenhuma democracia do mundo um partido político ousaria dizer que seu principal adversário representa o retrocesso, o atraso e um golpe nas conquistas populares. Em nenhuma democracia do mundo uma legenda se referiria a seu principal oponente como abrigo de “machismo, racismo, preconceito, ódio, intolerância e nostalgia da ditadura militar”.
Isso não é diálogo entre os fortes. Isso não é saber ganhar. Se a presidente Dilma quer realmente dar uma demonstração de que está disposta a se comportar como chefe de Estado — daqui para a frente ao menos —, não como chefe de facção, comece por repudiar a resolução aprovada pela Executiva Nacional do PT, que é virulenta, rancorosa e autoritária. Se Dilma quer realmente uma conversa maiúscula, comece por censurar o seu partido, que associa a pauta de reformas, de forma confessa, à tentativa de criar a hegemonia política.
Quem quer dialogar — e não cooptar ou submeter — trata adversários com respeito antes das eleições, durante as eleições e depois das eleições. Quem quer dialogar não “faz o diabo”. Só faz o diabo quem acha que pode se dar bem no inferno.
Aliás, não entendi o propósito da reunião com o PSD. O partido integrou a chapa vitoriosa e já pertencia à base de apoio de Dilma. Tem um ministro: Guilherme Afif Domingos. Foi reafirmar apoio para quê? Só posso concluir que busca ampliar seu espaço no governo. Infelizmente, por essas bandas, também para governar se faz o diabo.
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