O que significa “dialogar” para um partido de oposição?
Em toda parte, e aqui também, vocês lerão que, em seu primeiro discurso no Senado depois das eleições presidenciais, o tucano Aécio Neves (MG), presidente do PSDB, condicionou o “diálogo” com o governo Dilma à apresentação de propostas concretas e a uma efetiva investigação dos malfeitos do petrolão. A notícia está certa. Ele realmente afirmou o seguinte: “Qualquer diálogo estará condicionado ao envio de propostas que atendam aos interesses dos brasileiros e, principalmente, tem que estar condicionado especialmente ao aprofundamento das investigações e exemplares punições àqueles que protagonizaram o maior escândalo de corrupção da história do país, já conhecido como petrolão”. Muito bem. Infiro, no entanto, que não foi o aspecto mais importante de sua fala. Até porque é preciso entender que diabos, afinal, significa “diálogo”.
O eixo do discurso do meu gosto pessoal — e que creio bem mais importante politicamente — está em outro trecho. Afirmou Aécio: “Quero aqui, do alto desta responsabilidade, reafirmar (…) que, de todas, a mentira foi a principal arma dos nossos adversários. Mentiram sobre o passado para desviar a atenção do presente. Mentiram para esconder o que iriam fazer tão logo passassem as eleições. Fomos acusados de propostas que jamais fizemos. Assistimos a reiteradas tentativas de reescrever a história, sempre nos reservando o papel de vilões que jamais fomos e não somos”. Já escrevi aqui e reitero: o PSDB — e partido algum! — não pode mais ser refém da narrativa criada pelo PT.
É preciso, de resto, que a gente se pergunte o que quer dizer “diálogo” em política? Ora, os partidos da base governista dialogam entre si, certo? Cada um tem uma pretensão. Apoio não se dá em troca de nada. Há reivindicações e concessões. É o diálogo. Para um partido de oposição, o que significa “dialogar”? Como é que republicanos e democratas dialogam nos EUA? Como é que democrata-cristãos e social-democratas dialogam na Alemanha? Eu digo como: vigiando-se! É, é isto mesmo: vigiando-se! Até havia pouco, em larga medida, o PSDB sambava na mão do PT por excesso de… como direi?, governismo! É preciso saber ser oposição.
Vamos a exemplos práticos? Faz sentido um partido de oposição aprovar uma medida ruim para o país só porque é oposição? Esse é o PT. Votou contra o Plano Real, votou contra a Lei de Responsabilidade Fiscal, combateu as privatizações… Porque essas medidas eram ruins? Não! Porque era oposição. Não creio que seja esse o papel do PSDB ou de qualquer oposição responsável.
Pensemos agora na reforma política. É possível conciliar as pretensões do PT com as do PSDB? Não! Esse “diálogo” tem de ser feito só no ambiente do Congresso? Também não! O âmbito há de ser as ruas, a sociedade organizada, a opinião pública. É possível conciliar a visão que o PT tem da economia com o diagnóstico dos tucanos? Até onde se sabe, também não!
Aécio falou de uma sociedade que despertou. É ela a fonte de sua legitimidade. Para encerrar, lembro de todos os estelionatos eleitorais já cometidos por Dilma do dia 27 de outubro, o seguinte ao segundo turno, a esta data. Em nome do diálogo, deve-se abrir mão de fazer essa denúncia? É claro que não! E Aécio as fez. Só existe conversa entre os que preservam a sua identidade e não abrem mão de seus princípios.
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