Como Dilma quer censurar a imprensa. Ou: A conversa mole de monopólios e oligopólios. Ou ainda: A ameaça nada velada, e estúpida, ao grupo Globo
Dilma concedeu uma entrevista a oito jornalistas de veículos impressos, inclusive a Folha. Aprendi, lendo o jornal que, “no que se refere”, como ela mesma diria, à mídia, ela não quer controle de conteúdo. Seus alvos seriam o monopólio e o oligopólio. Ah, bom!
Sempre que se diz algo assim, eu pergunto: mas quem tem o monopólio ou o oligopólio de quê? O PT quer, sim, a censura — chama a isso de “controle social” —, mas a represidenta diz se contentar com a “regulação econômica”. O que é isso? Ela não diz. Não dizendo, tanto melhor! Ganha a simpatia de grupos que têm a esperança de entrar no setor e espera contar com a mansidão daqueles que podem vir a ser prejudicados. Em certo sentido, a melhor coisa que o PT pode fazer para “controlar a mídia” é manter a permanente ameaça de… controle da mídia, entenderam?
Aí leio o seguinte trecho na Folha:
“Perguntada sobre o conceito de monopólio incluir a chamada propriedade cruzada, quando um mesmo grupo econômico possui rádios, TVs e jornais, a presidente disse: ‘Não só a propriedade cruzada. Tem inclusive um desafio, que é saber como fica a questão na área das mídias eletrônicas. O que é livre mercado total? Tenderá a ser a rede social, eu acho’”.
“Perguntada sobre o conceito de monopólio incluir a chamada propriedade cruzada, quando um mesmo grupo econômico possui rádios, TVs e jornais, a presidente disse: ‘Não só a propriedade cruzada. Tem inclusive um desafio, que é saber como fica a questão na área das mídias eletrônicas. O que é livre mercado total? Tenderá a ser a rede social, eu acho’”.
É claro que o primeiro nome que vem à cabeça é o grupo Globo: TV aberta, TV por assinatura, rádio, revista, jornal, portal eletrônico… Muito bem! O grupo enfrenta concorrência em todas essas áreas. Tem a liderança na TV aberta? Tem. Mas perde para o UOL nos portais, para a Folha nos jornais, para a VEJA nas revistas e para um monte de emissoras, inclusive Jovem Pan, nas rádios. Nas TVs, inclusive a cabo, está muito longe de exercer o monopólio.
No caso, que mal a dita “propriedade cruzada” causa à liberdade de expressão ou à concorrência? Resposta: nenhum! Com o advento da Internet, que trouxe as redes sociais, as TVs nos portais — que se multiplicam —, os sites, os blogs, falar em “monopólio ou oligopólio” é má-fé ou burrice. E eu aprendi a não tratar essa gente como burra.
Que mudança Dilma quer fazer? Vai posar de Cristina Kirchner? Exigirá, por exemplo, que as rádios do grupo Globo sejam repassadas a algum empresário amigo do petismo? Forçará as emissoras a escolher a TV aberta ou por assinatura? Ela já tem em mente a lista de nababos para entrar em negócios já consolidados? Mais: não fossem as outras fontes de renda na área de comunicação, que grupo hoje manteria jornal impresso?
Esse não é um reclamo do povo, mas de grupelhos a soldo, que hoje vivem da propaganda oficial de estatais e da administração direta.
Isso é conversa para boi dormir. Das duas uma: ou o governo quer manter a eterna ameaça no ar para contar com a bonomia dos que pretendem se preservar do ataque oficial, ou Dilma quer, sim, o controle de conteúdo, forçando a divisão de empresas para entregar aos amigos do poder — esse mesmo poder que, hoje, já financia os amigos.
Insisto: quero saber o que Dilma considera “monopólio e oligopólio”. Sem que ela explique, afirmo que suas considerações não passam de trapaça intelectual.
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