O executivo da Toyo Setal Augusto Mendonça, um dos delatores da Operação Lava Jato, disse em depoimento à Polícia Federal que o esquema envolvendo contratos da Petrobrás incluía doações oficiais a campanhas eleitorais, além do pagamento de propina. Mendonça, que depôs na PF em 29 de outubro depois de fechar um acordo de delação com o Ministério Público Federal (MPF), disse ainda que o pagamento de propina cobrado pelo ex-diretor de Serviços da Petrobrás Renato Duque era feito de outras duas formas. Além das doações oficiais ao PT, Duque recebeu por meio de remessas ao exterior e em parcelas em dinheiro vivo.
Mendonça disse ainda que Duque tem uma conta “Marinelo”, para qual os recursos eram enviados. Uma das propinas supostamente pagas pelo executivo, no valor de US$ 1 milhão, chegou ao ex-diretor por meio de uma transferência com origem no Banco Safra no Panamá, em nome da companhia Stowaway, para a conta Marinelo. Durante o depoimento, Mendonça se comprometeu a apresentar o comprovante da transferência. O PT e Duque, contudo, negam que tenham recebido propina de empreiteiras. O ex-diretor, que nessa terça teve atendido o pedido de soltura, deixou a sede da Superintendência da Polícia Federal em Curitiba (PR) na manhã desta quarta-feira, 3.
O delator revelou ainda que o esquema firmado pelo “clube”, grupo das empreiteiras que organizaram o pagamento de propina, vinha acontecendo desde 2004. “Houve uma combinação entre Duque e as empresas do “clube”, coordenado por Ricardo Pessoa (executivo da UTC), de que se estabelecesse uma lista de convidados em licitações da Petrobrás em troca de pagamento de uma comissão, durante o ano de 2004. A partir de então, todas as empresas passaram a negociar e a pagar suas comissões”, disse Mendonça à PF.
Já outro executivo da Toyo Setal que participa do acordo de delação nega ter feito pagamento de propina por meio de doações oficiais. Julio Gerin de Almeida Camargo, também da Toyo Setal, diz ter feito doações oficiais de R$ 4,25 milhões por “conveniência”. Em depoimento prestado à Polícia Federal no dia 31 de outubro, Camargo negou que as doações feitas a doze siglas tenham sido motivadas pelo pagamento de propina. Segundo ele, todos os repasses foram feitos oficialmente e “dentro dos limites previstos por lei”.
Indagado sobre o motivo pelo qual fez doações nos anos de 2008, 2010 e 2012, ele afirma que algumas foram solicitadas por alguns candidatos e outras pelos próprios partidos. Ele disse ainda que “entendeu ser conveniente contribuir”, sem detalhar o por quê. Camargo acrescentou que alguns casos foram motivados por “amizade”, caso dos senadores Delcídio Amaral (PT) e Romeu Tuma (PTB), que receberam R$ 450 mil e R$ 100 mil, respectivamente, na campanha de 2010.
Camargo disse ainda que o Partido dos Trabalhadores (PT) foi um dos que mais recebeu doações, R$ 2,65 milhões dos R$ 4,25 milhões doados entre 2008 e 2012. Além do PT, comitês financeiros e políticos do PTB, PRTB, PSDB, PR, PV, PSDB, PMDB, PPS, PSL, PTN e PP receberam doações. O executivo disse ainda não houve doações motivadas por contratos firmados no âmbito da Petrobrás, nem de empresas ou consórcios de empresas dos quais ele participou e recebeu comissões.
Lava Jato. O depoimento foi feito após Camargo ter fechado em outubro um acordo de delação com o Ministério Público Federal no âmbito das investigações da Operação Lava Jato. A própria Toyo Setal também firmou acordo de leniência com o MPF para contribuir com as investigações a fim de desmontar um esquema de corrupção envolvendo a Petrobrás. (Fábio Fabrini e Talita Fernandes/AE)
Nenhum comentário:
Postar um comentário