VALORES RELATIVOS
GLAUCO FONSECA
Minha esposa às vezes se chateia com meu envolvimento excessivo com o noticiário político. Tem reclamado que minha pauta anda muito limitada e que meus assuntos, quando não se repetem, anda apenas oferecendo pequenas variações sobre o mesmíssimo tema. Culpo-me por ela estar certa. Nem no carnaval, depois dos desfiles eletrizantes da Mocidade e da Portela, eu consegui fugir do assunto. É Petrolão e corrupção pra cá, corrupção e Petrolão pra lá. Ela me pergunta: Será que o Impeachment pode acontecer? Eu respondo que sim, que se o mal continuar vencendo, o bem sucumbirá e as coisas não podem ser assim. Com esta frase simplória me lembrei do samba-enredo mais lindo que já ouvi, da Imperatriz de 1989, que fala sobre a abolição da escravidão e o fim da monarquia. Liberdade, Liberdade, abre as asas sobre nós… Liberdade requer o bem. Opressão requer o mal.
Por conta de minha exacerbação na defesa do que entendo como fundamental para a sustentação da democracia, sou frequentemente um grande chato. Ainda sou daqueles que acham que certos valores têm de ser preservados, ao mesmo tempo que entendo que outros valores podem – e devem – ser relativizados. A unidade da família, por exemplo, é um valor a ser preservado. No entanto, se a família é de pais homo ou hetero, pouco me importa. O papel do estado é outro exemplo. Está no rol de responsabilidades do estado a defesa do país, a proteção da Constituição e a promoção da segurança e do império das leis. Estes são valores intocáveis. Extrair petróleo, gerar energia elétrica, promover estoques reguladores e gerenciar rodovias, dentre outras tantas intervenções econômicas que antes eram tipicamente empreendimentos estatais, agora são muito melhor realizados pela área privada. Um estado sobrevalorizado e sobrecarregado de tarefas que não lhe são primordiais é um estado ineficiente, injusto, gastador, que onera seus cidadãos com preços mais altos e menor oferta de preços competitivos. O bem está na liberdade de mercado; o mal está na opressão dos mono e dos oligopólios.
Ayn Rand disse que “Quando irrestrito e ilimitado pelos direitos individuais, um governo é o mais mortal inimigo do homem.” Governos que interferem em demasia na vida privada são aqueles que acabam sendo responsáveis, segundo Rand, por derramamentos de sangue, guerras, perseguições, fome, as escravizações e as destruições em grande escala. Estaria o bem associado à individualidade, à liberdade de cada um, ao livre arbítrio e à livre iniciativa? Estaria o mal cada vez mais relacionado com a formação de coletivos heterodoxos, onde maiorias e minorias se confundem sem que se saiba exatamente quem se beneficia? Por que o mal é sempre associado a um coletivo que oprime e deseja suprimir, que busca factoides para convencimento sem se preocupar com fatos e evidências?
Eis que surge Nietzsche, colocando uma armadilha diante do velho maniqueísmo, ao propor que venhamos a pensar para além do bem e do mal. Segundo ele, o bem e o mal dependem da perspectiva e dos interesses de quem julga. Deveríamos, portanto, nos colocar no lugar do outro. Por exemplo, por que José Dirceu é homem “do mal” para os liberais e é herói “do bem” para os petistas? Por que Che Guevara é “do bem” para os adeptos do socialismo, mesmo tendo protagonizado ações “do mal”, como fuzilado ele mesmo dezenas de pessoas sem o adequado julgamento prévio?
Agora deixe Nietzsche de fora desta e me diga você: De que lado você está? Você vai ou não vai para a rua no dia 15 de março de 2015?
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