Os 8% de teimosos agora são mais de 60% e se multiplicam nas ruas. A seita lulopetista ficou menor que a inflação real
Augusto Nunes
Em 9 de junho de 2009, o título do post reproduzido na seção Vale Reprise ironizou o pânico epidêmico provocado pela instauração de uma CPI da Petrobras: alguém deve ter gritado “olha o rapa!” na porta da maior estatal brasileira, resumia. Estavam pálidos de espanto diretores, fregueses, fornecedores, pequenos acionistas e o homem do cafezinho. Estavam transidos de horror o presidente da República, ministros de Estado, senadores e deputados da base alugada, oposicionistas a favor, porteiros do Palácio do Planalto e o jornaleiro do Congresso. Por que tanta correria? Por que o medo coletivo? Aí tem, concluía o texto.
Tinha mesmo, sabiam os que nunca perderam o juízo e a vergonha. E como tinha, vem reiterando desde março de 2014 a devassa do Petrolão. Abstraídas as dimensões assombrosas da roubalheira e as propinas calculadas em milhões, a descoberta do maior, mais guloso e mais atrevido esquema corrupto da história não pareceu surpreendente aos olhos de quem não cai em conto do vigário e vê as coisas como as coisas são. Os leitores da coluna são testemunhas (e o timaço de comentaristas é protagonista) desse filme em que o PT morre no fim. E não foi por falta de aviso que tanta gente demorou tanto para entender que o país está sob o domínio de um bando de farsantes.
Se a abulia epidêmica fosse menos longeva, os comparsas envolvidos no grande embuste seriam alcançados mais cedo pelo desmoralizante castigo sonoro que fez Lula perder a voz, o rumo e o sono no Maracanã, na cerimônia de abertura dos Jogos Panamericanos de 2007. A vaia, lembrou um post de 17 de julho de 2009, “é o som que funde a fúria, o cansaço, o sarcasmo e a chacota. Sobressalta o presunçoso, silencia o falastrão, inibe o debochado, constrange o arrogante, desfaz o sorriso do canalha, assusta o ladrão. Nada como a propagação da vaia para combater surtos de bandidagem política semelhantes à que devasta o Brasil neste começo de século. Não há nada a perder além da sensação de impotência e da indignação há tanto tempo represada”.
Há seis anos, os supermercados de pesquisas repetiam que não passavam de 8% os que achavam ruim ou péssimo o governo lulopetista. Os nativos indignados, portanto, já foram uma espécie em extinção. Eram tão poucos que alguns blogueiros estatizados sugeriram que os críticos do governo fossem identificados um a um e examinados cuidadosamente, porque certamente sofriam de algum distúrbio psíquico ainda não catalogado pela ciência. A ideia ganhou força em 2012, quando o poste ameaçou superar o recorde do seu fabricante e chegar a 100% de popularidade (ou 103%, se a margem de erro oscilasse inteira para cima).
Passados dois anos, todas as pesquisas escancaram a dramática mudança na paisagem. Os 8% se multiplicaram com extraordinária rapidez. Agora são mais de 60% os que acham ruim ou péssimo o desempenho de Dilma e seus ministros A resistência democrática está nas ruas ─ e na ofensiva. Os poderosos vigaristas da virada da década estão acuados por manifestações de protesto. Muitos estão na cadeia, outros fogem do camburão. Lula sumiu, Dilma não sabe o que fazer e não diz coisa com coisa. Os satisfeitos com o desgoverno somam desprezíveis 7% do eleitorado.
A seita lulopetista ficou do tamanho da inflação oficial. E muito menor do que a inflação real.
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