De homens e borboletas. Ou: A ética perturbada de Janines e Marilenas. Ou ainda: Os petistas querem nos tornar a todos ladrões da Petrobras!
Por Reinaldo Azevedo
O leitor Rodrigo da Silva me envia um ótimo post, publicado no site Spotniks, intitulado “10 coisas que aprendi com os petistas na Internet”. Todas as sacadas são ótimas, mas a melhor é esta:“5) Você não pode reclamar dos bilhões desviados pela corrupção porque fura fila na padaria”.
Essa é a ética profunda espalhada por aí por sedizentes intelectuais como Marilena Chaui e Renato Janine Ribeiro.
De forma deliberada, esses dois monstros do pensamento, em sentido estrito, pretendem nos tornar a todos sócios da roubalheira da Petrobras. E o fazem incutindo em nós sentimentos de culpa para que silenciemos diante dos descalabros.
O mecanismo é sutil, mas eficaz. No dia a dia, todos acabam cometendo pequenas falhas, não é? Não que estas sejam desejáveis ou não devam ser corrigidas. Mas é certo que, se você fizer uma ultrapassagem pela direita — E VOCÊ NÃO DEVE FAZÊ-LO —, não estará pronto para roubar a Petrobras. Caso, como ironiza Rodrigo, você fure a fila da padaria — E VOCÊ NÃO DEVE FAZÊ-LO —, isso não quer dizer que você tenha se candidatado a assaltar os pobres numa estatal ou num ente governamental.
Numa palestra recente a um grupo fechado, mas com vídeo na Internet, Janine elogiou uma peça da campanha eleitoral do PT, que viu como um emblema da hegemonia construída pelo partido: “Se você se incomoda ao ver um mendigo na rua, você é um pouco petista”, como se o petismo fosse o monopolista desse tipo de incômodo.
De maneira inversa, os janines e marilenas querem nos convencer de que os assaltantes dos cofres públicos nos representam. Afinal, também temos as nossas falhas… Assim, seríamos naturalmente petistas na generosidade e na sem-vergonhice.
Se é certo que devemos fazer coisas que, se generalizadas, tornam o mundo melhor — e esse é um bom fundamento da moral e da ética —, isso não implica uma permuta perfeita entre as esferas da vida pública e da vida privada. Trata-se de uma mentira, de uma pilantragem, desmentida pelos fatos.
Stálin tinha carinho pelas crianças. Pegava-as no colo, demonstrava preocupação genuína com elas. E depois mandava matar seus pais se isso fosse útil a seu projeto de poder. Já nem preciso lembrar que Hitler se preocupava com a preservação na natureza na década de 30 do século passado.
Você não deve furar fila na padaria. Você não deve fazer ultrapassagem pela direita. Você não deve desrespeitar regras elementares de convivência. Mas, se acontecer, saiba: ainda assim, você não roubou a Petrobras, não participou do conluio que ferra a vida dos pobres, não conduziu o Brasil à recessão, à inflação e aos juros estratosféricos.
Cumpre encerrar como um poeminha de Drummond, “Anedota Búlgara”, que vocês já conhecem, que trata justamente da distinção que existe entre as duas esferas de atuação: a pública e a privada.
Era uma vez um czar naturalista
que caçava homens.
Quando lhe disseram que também se caçam borboletas e andorinhas,
ficou muito espantado
e achou uma barbaridade.
que caçava homens.
Quando lhe disseram que também se caçam borboletas e andorinhas,
ficou muito espantado
e achou uma barbaridade.
Alguém dirá: o desejável é que não se cacem nem homens nem borboletas. Também acho. Desde que não se igualem homens a borboletas, em prejuízo dos homens, nem se considere que um caçador de borboletas será, necessariamente, um caçador de homens, ou que um amigo das borboletas será, necessariamente, um amigo dos homens.
A ética como a ensinam as marilenas e os janines faz mal aos homens e às borboletas e só serve à construção de um partido que se pretende dono do destino de borboletas e homens.
Valeu, Rodrigo!
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