JORGE OLIVEIRA
Na verdade, dois candidatos à presidência da república contaram com os teclados submissos e generosos de muitos jornalistas no Brasil: Collor e Lula. O primeiro atraiu muitos colegas de redação com a guerra contra os marajás. Convidava-os em lote para visitar Alagoas, onde uma estrutura de comunicação se encarregava de encantá-los com os projetos de moralização do seu governo garantindo a mídia favorável nos jornais e revistas. O Lula apareceu como líder dos trabalhadores do ABC e logo virou atração de modernidade para a esquerda festiva e burguesa e dos jornalistas deslumbrados que viram no PT a marca da contestação ao regime militar e o rompimento ideológico com antigos partidos, como o PCB, por exemplo.
Veja que o vermelho não é diferente do colorido. A prova disso é que ambos estão juntos hoje em dia. E partiu de Lula a iniciativa de se aproximar de Collor para que ele ajudasse o PT a se estabilizar no poder, postura tão diferente daquela quando incentivou o Zé Dirceu e seus militantes caninos a provocar a CPI do PC Farias que terminou com o impeachment do seu atual amigo. Lula não se conformava ter perdido a eleição para Collor em um debate desastroso em que gaguejou durante todo o tempo, mesmo acostumado aos grandes confrontos.
Pois bem, Lula fala de cadeira quando direciona seus mísseis para os jornalistas. O único equívoco é quando generaliza. Nem todos os profissionais comem ou comeram no seu cocho de mandioca. Mas uma boa parte sim, diga-se. Com a sua chegada ao governo, muitos dos seus adeptos largaram as redações e seguiram o mestre na sua escalada ao poder. Foram coerentes: defenderam as ideias de Lula nas redações às custas dos patrões que os remuneravam e depois foram se aboletar nas repartições a soldo do erário público.
Lula aparelhou o estado distribuindo estrategicamente os jornalistas que lhes prestavam obediência nos órgãos estatais. Aos colunistas políticos mais conhecidos, ele deu posição de destaque no seu governo. Entregou a alguns, inclusive, os cargos de comando nas empresas de comunicação do governo. Usou e abusou de todos eles e depois descartou-os como rolete chupado. Muitos, desiludidos e frustrados, hoje estão na oposição. Coisa feia. Cospem no prato que comeram. Uma indelicadeza com o chefe. Agora, doze anos depois, surge uma nova geração de jornalistas independentes nas redações que só conhece de Lula e do PT os atos de corrupção. É para esses jornalistas novos, apartidários, que Lula se lança ao ataque com seu contingente de guerrilheiros vermelhos da comunicação na rede dos blogs chapas-brancas financiados pelos órgãos públicos.
Na trincheira de Lula, tentando erguer envergonhadamente a bandeira da moralidade, estão muitos jornalistas medíocres que foram se abastecer nas tetas do governo. São dessas tetas que provêm seus sustentos. Nada seria demais se o trabalho desses profissionais visassem apenas a divulgação isenta da notícia dos órgãos estatais. O que se vê, porém, é a utilização da máquina do governo para difamar e ameaçar autoridades constituídas que investigam a corrupção ou pessoas de bem que divergem do caminho desastroso que os petistas levam o país.
É assim, diante dessa submissão e do servilismos doentio de alguns profissionais de imprensa, que vivem à sombra das benesses petistas, que o jornalista brasileiro deixa de ser um miserável importante, para se transformar, infelizmente, apenas em miserável.
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