Especialistas ouvidos pelo site de VEJA apostam que, com as investigações sobre a Eletrobras, projetos elétricos vitais devem atrasar e o país ficará cada vez mais dependente das térmicas
Especialistas ouvidos pelo site de VEJA apostam que o impacto da Operação em todo o setor elétrico será inevitável. Ocorre que, como as empreiteiras envolvidas na Lava Jato não são apenas responsáveis pela construção da maior parte dos projetos, mas também sócias dos empreendimentos, a paralisação das obras em decorrência das investigações pode afetar a conclusão de usinas vitais para o abastecimento do país. Com isso, a dependência das térmicas, que custam caro ao Tesouro, tende a aumentar - e como o governo já não dispõe de fartos recursos para cobrir esse rombo, o consumidor deve aguardar um peso a mais no bolso.
Tal estimativa poderia ser mero exercício de futurologia, não fossem os resultados da Lava Jato, até agora, no âmbito da Petrobras. Descobriu-se, no curso das investigações, um emaranhado de empresas drenando recursos da estatal. A mira do Ministério Público chegou ao setor elétrico justamente por que recebeu denúncias de delatores envolvidos no petrolão. O executivo Dalton Avancini, da Camargo Corrêa, afirmou, em depoimentos prestados após acordo de delação premiada, que o cartel de empreiteiras formado na Petrobras continuava a se reunir para discutir o pagamento de propinas a dirigentes da Eletrobras e da Eletronuclear, mesmo depois do estouro das investigações sobre o petrolão. Com isso, foram presos o presidente afastado da Eletronuclear Othon Luiz Pinheiro da Silva e Flavio David Barra, presidente da Andrade Gutierrez Energia. De acordo com Avancini, Pinheiro da Silva recebeu propina das empreiteiras.
Até o momento, as suspeitas mais graves recaem sobre a usina de Angra 3. Mas, se o esquema de pagamento de propina e superfaturamento se comprovar sistêmico, tal como no setor de óleo e gás, há o risco de projetos estruturantes, como Belo Monte, Jirau e Santo Antônio, também serem paralisados. "O grande problema é que esses projetos estão muito internalizados pela estatal. Não há como dissociá-los da Eletrobras. E, uma vez que há atrasos, toda a perspectiva para o setor se altera. E como o governo se mostra incapaz de arcar com os subsídios, o consumidor ficará com o fardo", afirma Roberto Pereira d'Araújo, fundador do Instituto de Desenvolvimento Estratégico do Setor Elétrico (Ilumina).
Atrasos podem decorrer não só do efeito das investigações, como também do enxugamento do crédito para a infraestrutura. O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), que teve os repasses do Tesouro drasticamente reduzidos devido à crise fiscal, tem sido o principal financiador das obras do setor elétrico - mas entre as garantias exigidas para a concessão de empréstimos, há restrições a empresas investigadas. "Se os empresários tiverem de recorrer ao setor privado, o custo do dinheiro será mais caro. Se o custo do capital aumenta, sobe também o custo do empreendimento. No fim das contas, o empreendedor vai repassar o custo maior para a tarifa e, neste caso, também é o consumidor que paga a conta", afirma Walter Fróes, sócio da CMU Energia.
Atualmente, 27% do que se consome no Brasil é proveniente de fonte térmica, que custa ao menos o dobro da que vem das hidrelétricas. O consumidor paga essa conta por meio das bandeiras tarifárias. Há ainda o financiamento da Conta de Desenvolvimento Energético (CDE), usada pelo governo para bancar os descontos na conta de luz prometidos em 2012 pela presidente Dilma. A redução de cerca de 20% de três anos atrás se converteu em alta de 58% devido à crise que se abateu sobre o setor após as mudanças regulatórias feitas para viabilizar a conta mais barata. O barato, no fim, saiu caro. "A Eletrobras está numa trajetória de declínio assustadora desde as mudanças no setor elétrico. O que está acontecendo hoje é o desfecho de uma decadência já consolidada", afirma Claudio Sales, presidente do Instituto Acende.
A perspectiva da conclusão das hidrelétricas de Belo Monte, Jirau, Santo Antonio e a usina nuclear de Angra 3 era encarada pelo governo como a única forma sustentável de garantir o abastecimento sem dilacerar os cofres públicos no longo prazo, diante da escassez de chuvas e o esgotamento das hidrelétricas em funcionamento. A crise hídrica, garantem os especialistas, não teria afetado o país da forma como afetou, não fossem os erros de planejamento e atrasos em justamente essas quatro obras.
No caso de Angra 3, alvo do eletrolão, o atraso ganha contornos indecentes. O projeto da usina foi feito há mais de 20 anos, mas saiu do papel apenas em 2009. À época, estudos mostravam que os investimentos seriam mais eficientes se fossem feitos em hidrelétricas ou térmicas -- isso significa que o mesmo valor investido em Angra teria rendido mais megawatts se fosse usado nas duas outras formas de geração. O governo optou pela energia nuclear. Estima-se que os gastos com a usina alcancem a cifra de 15 bilhões de reais - e ainda devem subir, tendo em vista que ela deve ficar pronta apenas em 2019, cinco anos depois do prazo estabelecido no cronograma inicial. "A consequência é um custo assustador para a economia brasileira e para o contribuinte que paga a conta do investimento que poderia ser muito mais eficiente", afirma Sales, do Instituto Acende.
Tal estimativa poderia ser mero exercício de futurologia, não fossem os resultados da Lava Jato, até agora, no âmbito da Petrobras. Descobriu-se, no curso das investigações, um emaranhado de empresas drenando recursos da estatal. A mira do Ministério Público chegou ao setor elétrico justamente por que recebeu denúncias de delatores envolvidos no petrolão. O executivo Dalton Avancini, da Camargo Corrêa, afirmou, em depoimentos prestados após acordo de delação premiada, que o cartel de empreiteiras formado na Petrobras continuava a se reunir para discutir o pagamento de propinas a dirigentes da Eletrobras e da Eletronuclear, mesmo depois do estouro das investigações sobre o petrolão. Com isso, foram presos o presidente afastado da Eletronuclear Othon Luiz Pinheiro da Silva e Flavio David Barra, presidente da Andrade Gutierrez Energia. De acordo com Avancini, Pinheiro da Silva recebeu propina das empreiteiras.
Até o momento, as suspeitas mais graves recaem sobre a usina de Angra 3. Mas, se o esquema de pagamento de propina e superfaturamento se comprovar sistêmico, tal como no setor de óleo e gás, há o risco de projetos estruturantes, como Belo Monte, Jirau e Santo Antônio, também serem paralisados. "O grande problema é que esses projetos estão muito internalizados pela estatal. Não há como dissociá-los da Eletrobras. E, uma vez que há atrasos, toda a perspectiva para o setor se altera. E como o governo se mostra incapaz de arcar com os subsídios, o consumidor ficará com o fardo", afirma Roberto Pereira d'Araújo, fundador do Instituto de Desenvolvimento Estratégico do Setor Elétrico (Ilumina).
Atrasos podem decorrer não só do efeito das investigações, como também do enxugamento do crédito para a infraestrutura. O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), que teve os repasses do Tesouro drasticamente reduzidos devido à crise fiscal, tem sido o principal financiador das obras do setor elétrico - mas entre as garantias exigidas para a concessão de empréstimos, há restrições a empresas investigadas. "Se os empresários tiverem de recorrer ao setor privado, o custo do dinheiro será mais caro. Se o custo do capital aumenta, sobe também o custo do empreendimento. No fim das contas, o empreendedor vai repassar o custo maior para a tarifa e, neste caso, também é o consumidor que paga a conta", afirma Walter Fróes, sócio da CMU Energia.
Atualmente, 27% do que se consome no Brasil é proveniente de fonte térmica, que custa ao menos o dobro da que vem das hidrelétricas. O consumidor paga essa conta por meio das bandeiras tarifárias. Há ainda o financiamento da Conta de Desenvolvimento Energético (CDE), usada pelo governo para bancar os descontos na conta de luz prometidos em 2012 pela presidente Dilma. A redução de cerca de 20% de três anos atrás se converteu em alta de 58% devido à crise que se abateu sobre o setor após as mudanças regulatórias feitas para viabilizar a conta mais barata. O barato, no fim, saiu caro. "A Eletrobras está numa trajetória de declínio assustadora desde as mudanças no setor elétrico. O que está acontecendo hoje é o desfecho de uma decadência já consolidada", afirma Claudio Sales, presidente do Instituto Acende.
A perspectiva da conclusão das hidrelétricas de Belo Monte, Jirau, Santo Antonio e a usina nuclear de Angra 3 era encarada pelo governo como a única forma sustentável de garantir o abastecimento sem dilacerar os cofres públicos no longo prazo, diante da escassez de chuvas e o esgotamento das hidrelétricas em funcionamento. A crise hídrica, garantem os especialistas, não teria afetado o país da forma como afetou, não fossem os erros de planejamento e atrasos em justamente essas quatro obras.
No caso de Angra 3, alvo do eletrolão, o atraso ganha contornos indecentes. O projeto da usina foi feito há mais de 20 anos, mas saiu do papel apenas em 2009. À época, estudos mostravam que os investimentos seriam mais eficientes se fossem feitos em hidrelétricas ou térmicas -- isso significa que o mesmo valor investido em Angra teria rendido mais megawatts se fosse usado nas duas outras formas de geração. O governo optou pela energia nuclear. Estima-se que os gastos com a usina alcancem a cifra de 15 bilhões de reais - e ainda devem subir, tendo em vista que ela deve ficar pronta apenas em 2019, cinco anos depois do prazo estabelecido no cronograma inicial. "A consequência é um custo assustador para a economia brasileira e para o contribuinte que paga a conta do investimento que poderia ser muito mais eficiente", afirma Sales, do Instituto Acende.
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