Josias de Souza
Durante dois anos, o Bolsa Família propiciou a Lula seus momentos de são Francisco de Assis. Mesmo depois do mensalão, quando o PT deixou o socialismo para cair na vida, Lula manteve o prestígio escorado numa hipotética castidade presumida. Neste domingo, o asfalto começou a descanonizar o personagem. Um gigantesco boneco de Lula, vestido de presidiário, ornamentou os protestos de Brasília. Virou meme na internet. Evidência de que o teflon que protegia a imagem de Lula não é impermeável ao óleo queimado do petrolão.
Num instante em que a sua voz soa nos grampos da Lava Jato e sua prosperidade lateja na conta bancária, Lula encontra-se na constrangedora posição de um ex-presidente supostamente honrado que legou à sucessora uma esbórnia e continuou enrolado na bandeira da moralidade. Um pedaço das ruas informa que já não se dispõe a engolir a imagem que Lula faz de si mesmo.
Na página 147 do livro ‘Lula, o filho do Brasil’, da pesquisadora Denise Paraná, Lula pintou assim o seu auto-retrato: “…Se eu não tivesse algumas [qualidades pessoais] não teria chegado aonde cheguei. Eu não sou bobo. Acho que cheguei aonde cheguei pela fidelidade aos propósitos que não são meus, são de centenas, milhares de pessoas.''
No momento, um fantasma assombra as noites de Lula na cobertura de São Bernardo. Trata-se da assombração do próprio Lula, quando fazia pose de puro e imaculado. A alma penada ronda-lhe os sonhos, brandindo faixas com bordões inconvenientes. Coisas como ‘Abaixo a corrupção’. Ou ‘Fora Collor’. Ou ainda ‘Abaixo os 300 picaretas do Congresso’.
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário