Mary Zaidan
Luiz Inácio Lula da Silva escolheu a cidade de Montes Claros, sexto município mais populoso de Minas Gerais, para, mais uma vez, atrair holofotes sobre a possibilidade de ser candidato à sucessão de sua pupila Dilma Rousseff. Embora, seguramente, a intenção do ex seja a de se colocar como salvador da pátria, sua afirmação - “se for necessário eu vou para a disputa” – soa mais como ameaça ao país, visto que é inevitável separar Lula da agudez da crise. Muito menos dos escândalos da Lava-Jato, nos quais o PT, ele, Dilma e aliados são os principais beneficiários.
Ciclotímico quanto à sua afilhada, ora amigo fiel, ora crítico mordaz que a coloca abaixo do volume morto, Lula tem agido como quem não mais acredita na possibilidade de Dilma concluir o mandato.
Esbraveja, acusando de golpistas aqueles que trabalham com a hipótese de renúncia ou impedimento constitucional. Ao mesmo tempo, amplia sua presença em palcos-palanques, que, mesmo em ambientes fechados e audiência contada a dedo, ele chama de comícios.
Tenta manter alguns fios da esgarçada rede de apoio e sempre que pode cava um jeitinho de se dizer candidato, “se necessário for”.
E quem precisa de Lula? Fora o PT, alguns asseclas e velhos companheiros sindicalistas, não há qualquer clamor pelo volta Lula. Nem mesmo os viúvos da esquerda da primeira metade do século passado ele consegue arregimentar.
Longe da popularidade que gozava quando deixou o governo e sacou Dilma do colete – algo que ele tem confessado a muitos como seu maior erro -, Lula parece saber que até para ele, que se tinha como infalível, está difícil dar a volta por cima e se reinventar. Hoje, perderia eleição para qualquer um dos desafetos tucanos – Aécio Neves, Geraldo Alckmin ou José Serra – e também para Marina Silva, segundo dados do Instituto Paraná de Pesquisas, divulgados na segunda-feira passada.
Suas plateias, até as convocadas pela CUT, como aconteceu na sexta-feira, em Belo Horizonte, estão cada vez menores, incapazes de lotar auditórios, quanto mais ambientes externos.
Nas ruas, o que tem feito sucesso é o Pixuleko ou Pixulula, boneco inflável de Lula vestido de presidiário.
Apresentado ao público pelos manifestantes de Brasília no último dia 16, o boneco virou símbolo dos atos contra a roubalheira, contra Dilma, Lula e o PT. E parece ter incomodado mais do que as centenas de milhares que foram às ruas em março, abril e agosto, ou os frequentes panelaços. A ponto de mobilizar gente para tentar destruí-lo, como ocorreu no Viaduto do Chá, em São Paulo, quando o boneco foi esvaziado a facadas.
Alvo de críticas severas do presidente do PT, Rui Falcão, e até da presidente, conseguiu algo que nem a recessão estampada no PIB negativo de 1,9%, nem a inflação ou o desemprego crescente, que de acordo com o Dieese-Seade bateu em 13,7% na Grande São Paulo, chegaram perto: provocar furiosa indignação em Dilma, para quem o boneco ultrapassou “todos os limites”.
Além das investigações que a cada dia se aproximam mais de Lula e dos seus, o ex, hoje esvaziado, paga o preço de ter inflado Dilma e a si próprio.
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