quarta-feira, 30 de setembro de 2015

E-MAILS COMPROMENTEM LULA

Lula fez lobby para Odebrecht, diz ministro em e-mail

Miguel Jorge, ex-titular do Desenvolvimento, relata a atuação de Lula para favorecer a empreiteira. 'PR fez o lobby', diz a troca de e-mails em mãos da PF


Lula e Marcelo Odebrecht

Ao deixar a Presidência, em 2010, Luis Inácio Lula da Silva assumiu, como ele mesmo disse, o papel de "caixeiro-viajante" do Brasil, viajando pelo mundo com o objetivo declarado de abrir caminhos para empresas brasileiras. Em julho deste ano, a Procuradoria da República no Distrito Federal abriu um procedimento para apurar a suspeita de que mais do que boas intenções tenham motivado o ex-presidente: suas palestras e atividades no exterior poderiam, na verdade, ser enquadradas no tipo criminal do tráfico de influência, em especial para favorecer os interesses da Odebrecht, a maior empreiteira do país. Nesta terça-feira, e-mails obtidos pela Polícia Federal na operação Lava-Jato mostram que muito antes de encerrar seu mandato Lula e sua equipe já demonstravam um empenho especial em aproximar a Odebrecht de possíveis contratantes.

Uma série de e-mails analisada pela PF mostra o ex-presidente da empreiteira Marcelo Odebrecht em conversa com dois executivos da empresa, Marcos Wilson e Luiz Antonio Mameri, e com o então ministro de Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Miguel Jorge. Diz o relatório policial: "Miguel Jorge afirma que esteve com os presidentes (do Brasil e da Namíbia) e que 'PR fez o lobby', provável referência ao presidente Lula."

Na época, o presidente do país africano era Hifikepunye Pohamba. Em 11 de fevereiro de 2009, Lula o recebeu para um almoço no Itamaraty.

O primeiro e-mail analisado é de 6 de fevereiro de 2009. Odebrecht e executivos do grupo falam do convite do presidente Lula para almoço com o presidente da Namíbia. "Marcelo, o Presidente Lula está lhe fazendo um convite para participar de um almoço, com o Presidente da Namíbia, no dia 11/02 (quarta-feira), às 13h00, no Itamaraty, salão Brasília." O texto prossegue com uma menção específica a pedidos do presidente em nome da empreiteira: "Seria importante eu enviar uma nota memória antes via Alexandrino com eventualmente algum pedido que Lula deve fazer por nós."

O Alexandrino mencionado é Alexandrino Alencar, o executivo da Odebrecht com ligação mais estreita com Lula. Ele foi preso há 100 dias, completados no último domingo, sob a suspeita de ser um elo fundamental da empreiteira com o esquema do petrolão. Na mesma ocasião, foram presos Marcelo Odebrecht e outros três ex-adminsitradores da companhia.

A série de e-mails prossegue. Eram 9h56 de 11 de fevereiro de 2009, quando o executivo da Odebrecht Marcos Wilson escreveu para o ministro. "Miguel, se você estiver com o presidente Lula e o da Namíbia é importante que esteja informado sobre esta negociação e, se houver oportunidade.,manifestar sua confiança na capacidade desta multinacional brasileira chamada Odebrecht."

O projeto em questão, descrito no e-mail, é o de uma hidrelétrica, a Binacional Baynes, que envolvia um consórcio brasileiro formado pela Odebrecht com a Engevix - duas empreiteiras acusadas de corrupção na Lava Jato - e as estatais Eletrobrás e Furnas, junto com Namíbia e Angola. Um investimento de 800 milhões de dólares.

Às 17h21, Miguel Jorge respondeu ao executivo. "Estive e o PR fez o lobby. Aliás o PR da Namíbia é quem começou - disse que será licitação, mas que torce muito para que os brasileiros ganhem, o que é meio caminho andado."

Para os investigadores, a sigla "PR" é uma referência ao presidente da República, usada em várias outras trocas de e-mails. A mensagem eletrônica foi depois copiada a Marcelo Odebrecht.
(...)

(Com Estadão Conteúdo)

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