(Texto publicado no dia 14/12/2011 no jornal italiano Corriere della Sera.)
Por Vittorio Messori
O Corriere della Sera recordou, com uma página inteira, os 20 anos daquilo que ocorreu em uma dacha em Viskuli, na floresta de Pushcha na Bielorrússia. Os primeiros presidentes democraticamente eleitos das três repúblicas eslavas da URSS — Rússia, Ucrânia, Bielorrússia — assinaram o documento que declarava “a cessação da União Soviética como um Estado” e o colapso do primeiro Estado comunista na história. Uma decisão inesperada, não só para os habituais “especialistas”, mas também para os próprios protagonistas do encontro. Afinal, o que se buscava não era o fim da União Soviética, mas um pacto federal renovado. Em vez disso, poucos dias depois, na noite de Natal, a bandeira vermelha, com a foice e o martelo, foi retirada para sempre da cúpula mais alta do Kremlin e em seu lugar foi hasteada a bandeira tricolor do Império de Pedro, o Grande.
As assinaturas do russo Ieltsin, do ucraniano Kravchuk e do bielorusso Shushkevic, no documento em que a segunda potência mundial decidiu cometer suicídio, foram firmadas a 8 de dezembro de 1991. Era o dia da festa litúrgica da Imaculada Conceição.
É certo que — na perspectiva do Deus bíblico, que se revela e oculta, deixando à liberdade do homem escolher entre aceitação e rejeição — onde o crente vê “sinais”, para os descrentes há apenas coincidências.
Mas, verdade seja dita, o enigmático 8 de dezembro parece atrair coincidências.
Recordemos outra história verdadeiramente singular sobre a bandeira europeia. O Conselho da Europa iniciou em 1950 um concurso internacional para a criação de uma bandeira que representasse o continente. Participaram centenas de artistas e designers gráficos, mas os esboços, muito numerosos, que continham uma cruz foram rejeitados pelos socialistas e pelos secularistas. Em 1955, a Comissão, presidida por Paul Lévy, um judeu, opta por uma bandeira azul com 12 estrelas douradas no centro dispostas em círculo. A ideia vingou. Tanto que, em 1986, o estandarte foi adotado como símbolo oficial da Comunidade Europeia, alterando apenas as estrelas douradas para a cor prata.
Houve perplexidade, senão arrependimento, quando se conheceu a história do esboço vencedor, cujo autor era Arsène Heitz, um desenhista belga pouco conhecido, mas devoto mariano fervoroso. Azul é a cor da Virgem Maria e as estrelas são aquelas que rodeiam a cabeça da mulher do Apocalipse, em que a tradição reconhece Maria. Com relação ao número, são as doze tribos de Israel, os doze apóstolos e as doze estrelas que estão sobre a Medalha Milagrosa encomendada em 1830 pela Virgem Maria e que Heitz, como um bom devoto, sempre usava no pescoço. E isso não é tudo. Para a assinatura formal do documento que adotou a bandeira, em 1955, tentou-se uma data que fosse conveniente para todos os políticos da Europa que viriam a Estrasburgo. Ninguém no conselho notou que o dia escolhido não era um dia comum, ao menos para os crentes: mais uma vez, o 8 de dezembro. E a medalha que tinha servido de modelo trazia gravada uma invocação à Imaculada Conceição.
Vejamos um outro caso, entre muitos possíveis, de coincidências vindas do alto. Novamente, a história da URSS cruza-se com Fátima. Em 1945, Moscou tinha ocupado a área mais importante de Viena, uma das quatro em que a Áustria havia sido dividida pelos Aliados. O ministro soviético das relações exteriores, Viatcheslav Molotov, sublinhou que Moscou nunca iria desistir do que havia ocupado e todos esperavam que, como em Praga, os comunistas iriam encenar um golpe de estado para caminharem sozinhos rumo ao poder absoluto na Áustria inteira. As próprias chancelarias ocidentais pareciam resignadas quanto à sorte da Áustria. Mas não se resignou um franciscano, padre Petrus Pavlicek, que havia retornado do cativeiro na União Soviética, e fez uma peregrinação ao santuário nacional austríaco em Mariazell.
Lá, ele foi surpreendido por uma voz interior que lhe disse: “Reze o Rosário e sua Pátria vai se salvar”. Empreendedor, padre Petrus promoveu uma “Cruzada Nacional do Rosário”, inspirada nas aparições de Fátima, que rapidamente arrastou milhões de austríacos, incluindo o chanceler Leopold Figl. Dia e noite, multidões se reuniram nas cidades e nos campos, recitando a coroa do rosário. Viena foi tomada por procissões impressionantes sob o olhar hostil do exército vermelho. Os anos passavam sem que cessasse a ocupação, devido à obstinação russa, mas o povo não se cansava de rezar.
Eis que, em 1955, a União Soviética comunicou que estava disposta a restaurar a independência da Áustria em troca da sua neutralidade. Os governos ocidentais foram pegos de surpresa por essa decisão única e inesperada, um fato que, como recordou Molotov, nunca ocorrera antes: a União Soviética concordou em se retirar voluntariamente de um país ocupado. Mas não ficaram surpreendidos aqueles que oraram por anos na “Cruzada do Rosário”: na verdade a conferência internacional que em dois dias conduziu ao tratado sobre o fim da ocupação, teve início, com a devida solenidade, no antigo Palácio Imperial em Viena, no dia 13 de maio. O aniversário da primeira aparição em Fátima.
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