Os hábitos exóticos — e muito estranhos — dos políticos e funcionários públicos que insistem em manter suas reservas de dinheiro longe do sistema bancário
O ex-deputado prestou na semana passada um depoimento ao juiz Sergio Moro. Vargas é acusado de comprar uma casa em Londrina, cidade onde construiu sua carreira, com dinheiro de propina, um negócio de 1 milhão de reais. Indagado sobre a origem de 480 000 reais usados para completar a transação, o ex-deputado foi rápido na resposta: disse, sem maiores explicações, que era um dinheiro que ele vinha guardando havia anos, fruto de economias pessoais. "Eu guardava para uma eventualidade", afirmou ao juiz. A explicação provavelmente é verdadeira. O motivo do cuidado é que é absolutamente falso.
Estudos já demonstraram que a quantidade de dinheiro vivo que circula em uma economia está diretamente ligada aos níveis de corrupção do país. No Brasil, onde quase 40% das transações são feitas em dinheiro, a percepção de corrupção entre a população, medida pela Transparência Internacional, fica em 43 pontos - em uma escala em que zero é o maior grau de corrupção e 100 é a honestidade absoluta. Já em países nos quais há menos "cash" na praça - nos Estados Unidos, as cédulas respondem por cerca de 20% das transações, e em lugares como Reino Unido e Áustria, menos de 10% -, a percepção de corrupção é muito mais fraca: fica acima dos 70 pontos.
"Há uma correlação direta entre corrupção e dinheiro vivo. Por que outra razão uma pessoa faria transações altas com cédulas num país com sérios problemas de segurança?", questiona o economista Gil Castello Branco, da ONG Contas Abertas.
Nenhum comentário:
Postar um comentário