terça-feira, 17 de novembro de 2015

O PERIGO DOS "BONZINHOS"

“A mundanidade espiritual nos afasta da coerência de vida, nos faz incoerentes”, uma pessoa "finge ser de certa maneira, mas vive de outra”.

(Papa Francisco)

OS “INTELECTUAIS BONZINHOS” SÃO UM PERIGO!

By Rodrigo Constantino

Marilena Chaui conhece Spinoza a fundo, mas cospe na classe média "fascista" para defender Lula!

O tema da coluna de Luiz Felipe Pondé nesta segunda foi bastante pertinente, e remete a um debate antigo na filosofia: até que ponto os intelectuais, aqueles que vivem das ideias, contribuem para o progresso da sociedade? Platão já era o símbolo do filósofo cujas ideias representavam um perigo para os governados, já que no mundo platônico os reis-filósofos seriam seres abnegados.

Thomas Sowell e Hayek foram alguns dos pensadores liberais que alertaram para os riscos das ideias dos intelectuais. Ignorar que essa gente que vive das ideias também sofre a influência das paixões humanas, que também está submetida aos mesmos interesses mesquinhos, como a vaidade, o poder e até o ganho monetário, é abrir a guarda para uma mentira.

Segundo Pondé, os intelectuais ocuparam o espaço do clero no mundo moderno: posam como os representantes do sumo bem, fingindo que não vivem como os demais seres miseráveis, movidos pelas mesmas paixões dos “ignorantes”. Diz Pondé:

Qualquer um pode ver esta percepção de que somos do bem no modo arrogante como assumimos que as pessoas comuns são meio idiotas (ainda que não digamos isso claramente). Por exemplo, essa gente iletrada a favor da maioridade penal, contra o aborto, que come carne aos montes, que “acredita na família” (só gente inculta comete esse erro), que pensa que com armas nas mãos pode se defender de bandidos, que acha que o mundo está dividido em “gente de bem” e “bandidos”, ou seja, essa gente comum é de uma estupidez que choca nosso intelecto muito mais “bem informado”.

Acho que há alguns indícios na própria história da filosofia que alimentam essa vaidade de nos tomarmos como gente do bem a priori. Já Platão, ao reagir à religião grega ou à tragédia, vê sua filosofia como uma “reforma do mundo”. Com a chegada do cristianismo na filosofia, a ideia de que os “homens do conhecimento” eram homens de Deus tornou-se uma presunção de superioridade moral ainda maior.

Mas é com o advento do iluminismo francês e da teologização da política por gente como Rousseau e Marx (quem quiser aprofundar essa ideia leia Isaiah Berlin) que a arrogância intelectual chegou ao seu perfil contemporâneo. A política se fez teologia, e nós, seus agentes da graça redentora.


O olhar mais “sofisticado” do mundo acaba levando a uma arrogância perigosa, a um monopólio da virtude. Só que o fato de um sujeito ter mais conhecimento que a média não quer dizer que ele tenha mais conhecimento do que o todo, do que o somatório de “homens comuns”. As instituições sobreviventes de séculos de tentativa e erro guardam uma sabedoria que um indivíduo sozinho não é capaz de apreender.

Além disso, o conhecimento maior nada diz sobre a moralidade do sujeito. Ele pode ter lido mil livros e ser um crápula, um covarde, um ser mesquinho dominado pelas paixões mais vis. Esses intelectuais, que se julgam “intelectuais bonzinhos”, acabam expondo grande hipocrisia e defendendo ideologias abjetas. A história comprova que toda tirania contou com o apoio empolgado de vários desses “intelectuais”. Sartre, para dar um exemplo famoso, flertou com as piores ditaduras de sua época.

Pondé conclui com um exemplo mais recente e próximo: “Basta ver a história recente do PT (grêmio que reuniu a esmagadora maioria dos intelectuais brasileiros nos últimos tempos) para ver o ridículo dessa gente”. De fato, sabemos que o PT atraiu vários desses “intelectuais bonzinhos”. Como não perceberam que se tratava de um engodo, de um embuste populista? Como essas mentes “brilhantes” não anteciparam toda a corrupção, a incompetência?

“Todos esses anos de estudos para apostar numa entidade corrupta como esta?”,
pergunta Pondé. Fica complicado sustentar que os intelectuais são uma reserva moral ou uma fonte de sabedoria. Essa constatação não precisa levar necessariamente a uma postura anti-intelectual, mas deveria servir como alerta para os riscos da arrogância de certos “intelectuais”, impondo maior humildade e respeito à sabedoria contida nos “homens comuns”. Os “intelectuais” não são os guardiões do bem.

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