Ricardo Pessoa diz que doações legais eram diferentes do pagamento de propina. E reitera que PT mantinha a conta corrente da corrupção
Por: Reinaldo Azevedo
Pois é… O empreiteiro Ricardo Pessoa, dono da UTC e da Constran, considerado um dos principais delatores da Lava Jato, deu um depoimento que poderia complicar bastante a narrativa até agora criada pelos procuradores, pela Polícia Federal e pela imprensa. Poderia. Não sei se vai porque ela não combina com a ideologia dos investigadores e de setores importantes da… imprensa! E não! A sua narrativa não preserva ninguém. Muito pelo contrário.
Segundo Pessoa, havia, sim, uma diferença entre o que era doação eleitoral e o que era propina. Com a devida vênia, e já chamei aqui a atenção dos senhores para o caso, o Ministério Público arrancou a fórceps, de delatores, a história de que era tudo a mesma coisa; de que a doação era só a devolução de parte do que havia sido, na prática, roubado. E por que isso? Porque há o interesse ideológico de demonizar as doações privadas de campanha. E todos foram muito bem-sucedidos nisso, não é mesmo? O STF aproveitou o clima e proibiu a doação de pessoas jurídicas.
Pois Pessoa diz que são coisas distintas. Acho que ele fala a verdade. Ou seria preciso demonstrar de que maneira candidatos da oposição poderiam ajudar os empreiteiros na Petrobras. Bem, eles não poderiam, certo?
Disse Pessoa ao juiz Sérgio Moro nesta segunda:
“Na época de campanha, as contribuições de campanha não tinham nada a ver com propina, eram contribuições de campanha mesmo. O restante, não. Era como se pagava a comissão da propina da Petrobras”.
E o que era esse restante? Ele explicou: as doações feitas ao diretório nacional do PT, por exemplo, fora do período eleitoral faziam parte de uma “conta corrente” — sim, a conta corrente da roubalheira. Segundo Pessoa, ela era controlada por João Vaccari Neto, à época tesoureiro do partido.
Em seu depoimento, ele afirmou ainda que o pagamento que efetuou a José Dirceu nada tinha a ver com a Petrobras, que o ex-ministro efetivamente prestou serviços à UTC e que ele foi uma espécie de relações públicas da empreiteira em países como Peru, Colômbia e Equador.
Notem: não se descarte, claro, que, vá lá, parte das doações eleitorais embutissem também propinas. Esse tipo de dinheiro não tem carimbo. Ocorre que o que Pessoa está denunciando é muito mais grave. Não se está falando de crimes cometidos em período eleitoral. Não! Havia uma máquina organizada para assaltar o estado, independentemente de qualquer vicissitude — provavelmente, também no período eleitoral.
Isso só demonstra a estupidez de proibir a doação de empresas privadas a campanhas. Muito bem! As legais deixarão de existir. Mas permanece a questão: como é que se vai impedir que partidos aparelhem o estado e se dediquem à roubalheira contumaz?
A narrativa de Ricardo Pessoa desconstrói o vetor ideológico, antiempresa privada e anticapital da Lava Jato. E esse vetor nada tem a ver com a qualidade da investigação. Esta até pode ser de primeira, independentemente de seu substrato valorativo.
O depoimento de Pessoa prova a estupidez da decisão tomada por maioria no STF e, curiosamente — ou nem tanto para quem atenta à historia e à origem das ideias —, apoiada pelo Ministério Público, pelo PT e pelos petistas da OAB.
Para encerrar
Quer dizer, então, que isso livra a cara de Edinho Silva? Afinal, a doação de R$ 7,5 milhões, dos R$ 10 milhões pedidos, foi feita por dentro. Era, para todos os efeitos, legal.
Não livra nada se ele mantiver a afirmação de que esse dinheiro foi conseguido depois da gentil lembrança, feita pelo então tesoureiro de Dilma e hoje ministro, de que ele, Pessoa, precisava doar mais porque, afinal, mantinha muitos contratos com a Petrobras.
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