Vamos tentar colocar um pouco de ordem nessa bagunça.
Sim, Eduardo Cunha, o presidente da Câmara, não é um homem digno de confiança. Corre contra ele um processo do Conselho de Ética que visa tirar-lhe o cargo ou até o mandato.
Mentiu dizendo que não tinha conta na Suíça até que apareceram os extratos. A origem do dinheiro mereceu dele explicações rocambolescas.
Os votos dos três deputados do PT que fazem parte do Conselho são decisivos para traçar o destino de Cunha. Eles podem absolvê-lo ou condená-lo.
Por outro lado, Cunha é o presidente da Câmara até o momento em que for apeado do cargo e só ele, constitucionalmente, tem o poder de acolher um pedido de impeachment da presidente da República.
São os sortilégios da política: tanto poder concentrado na mão de um deputado que pode ser cassado a qualquer momento.
Enquanto ele tentava barganhar com o governo uma troca dos 3 votos pelo pedido de impeachment, disse que o governo tentava era barganhar com ele. Conhecendo os atores envolvidos, é bem provável que ambos tenham razão.
Enquanto o governo e Cunha tentavam acertar as suas barganhas, o PT endureceu e seus 3 deputados anunciaram que votarão a favor da aceitação da denúncia. Mas o PT não é governo, e o governo, afinal não é do PT? Mais uma vez, sortilégios da política. Fica parecendo que entre a desmoralização definitiva e a sorte de sua presidente não tão amada, o PT fez uma escolha clara: salvar o que ainda é salvável.
Depois de anunciada por Cunha a aceitação da proposta de impeachment encabeçada pelo ex-petista Hélio Bicudo, a presidente, que alterna seu estado de espírito entre a perplexidade e o estarrecimento, resolveu tornar pública, desta vez, a sua indignação.
Disse: “Não paira sobre mim nenhuma suspeita de desvio de dinheiro público; não possuo contas no exterior: nunca coagi ou tentei coagir instituições ou pessoas na busca de satisfazer meu interesse”. Uma resposta diretamente endereçada a Cunha, elaborada mais com a participação do fígado do que com a razão.
Sim, Cunha é acusado de tudo isso, mas não é sobre nenhuma dessas acusações que se sustenta o pedido de impeachment da presidente. Ficou parecendo a resposta de uma adolescente zangada com as provocações de uma desafeta de turma.
Outro paralogismo muito usado pelos partidários do governo, é aquele que repete que o processo de impeachment é golpe e que Dilma foi legitimamente eleita pelo povo e por isso é preciso deixá-la cumprir seu mandato até o fim.
Pode-se defender qualquer coisa, menos que um processo constitucional seja golpe e, de resto, convém lembrar, a bem da lógica mais primária, que só um mandante legitimamente eleito é que pode sofrer impeachment. Não há hipótese de tirar o mandato de alguém que não tenha sido eleito.
O PT lançou mão das armas que tem e recorreu ao Supremo tentando anular a decisão de Eduardo Cunha, mas retirou a ação quando soube que ela seria relatada por Gilmar Mendes. E o mercado reagiu à notícia da aceitação da denúncia com acenos de simpatia, via Bolsa e ações da Petrobras e do Banco do Brasil subindo e o dólar caindo.
O recado da sociedade é claro: o Brasil quer voltar a andar, e se para isso tiver que se livrar de Dilma e também de Cunha, que assim seja. O que não dá é o País ficar refém dos jogos vorazes de uma classe política inepta que está nos colocando na rota de uma depressão que pode destruir todas as nossas pontes para o futuro.
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