Jorge Oliveira
Certa vez, o então ministro das Minas e Energia, Cesar Cals, me confidenciou que o governo brasileiro vive de improviso. Ao anunciar o recolhimento dos carros com mais de dez anos de uso como uma das medidas para racionar energia na crise entre as décadas de 1970/80, ele foi chamado pelo presidente João Batista Figueiredo para ser repreendido. A medida, segundo o general, era impopular e, portanto, negativa ao governo. A decisão de Cals não prosperou e os carros velhos continuaram a rodar por esse país afora consumindo mais combustíveis pela desregulagem do motor.
O ministro me confessou que a medida surgiu depois de uma conversa com amigos e alguns goles de uísque na Península dos Ministros, onde residia em Brasília. Não foi gerada por nenhum estudo técnico nem baseada em dados que comprovassem a eficácia da economia de combustível. Além disso, lembraria ele, não existiria espaço para estocar tantos carros e logística para mantê-los guardados. Na época, publiquei a matéria no Jornal do Brasil resguardando a fonte.
Nada mudou de lá pra cá. Nessa coisa de improviso não existe diferença entre governo ditador e democrático. Em Brasília, tudo é feito ainda na base do improviso. Não há, por exemplo, quem me convença de que essa liberação de 83 bilhões de reais para incentivar o consumo não trilhou o mesmo caminho de uma reuniãozinha movida a uísque. Se a decisão tivesse sido amadurecida por economistas sérios, discutida a sua eficácia e a importância dos seus benefícios, evidentemente que o ex-ministro Joaquim Levy a teria usado para sair do sufoco.
Não precisa ser nenhum gênio em economia para constatar que, mais uma vez, o governo da Dilma trabalha atabalhoadamente. E o seu atual ministro da Fazenda, forjado dentro do Instituto Lula, pensa como o Cesar Cals. Sacou da cartola a solução mágica para tirar a economia do limbo usando o FGTS do trabalhador para estimular o consumo.
É mais uma maldade contra os trabalhadores.
Em vez de reduzir os gastos e procurar outras alternativas para desenvolver o país gerando renda e emprego, a Dilma incentiva o trabalhador a entregar o FGTS aos bancos como garantia de empréstimos . Ora, depois da elasticidade dos créditos para compra de carros e a autorização dos empréstimos também consignados aos aposentados, levando-os a falência, o governo quer agora entregar o cofrinho do trabalhador aos bancos. Quem não lembra, por exemplo, do desastre que foi a compra das ações da Petrobrás com o dinheiro do FGTS?
O trabalhador, que vem sofrendo com a recessão econômica, não vai pensar duas vezes para penhorar seu fundo de garantia nos bancos. E, com essa medida, como sempre acontece, os banqueiros vão reforçar o caixa sem o medo de perder o dinheiro emprestado a juros de mercado, um dos mais altos do mundo.
Na verdade, essas coisas só acontecem em um governo biruta como o da Dilma que não planeja o país para tirá-lo do buraco. Continua gastando desenfreadamente como se tivesse nadando em dinheiro. Mantém ministros incompetentes nos cargos, como o da Saúde, para agradar aos partidos e evitar o impeachment. E vive gastando milhões de reais em roupas, viagens e boas comidas para se manter elegante e bem alimentada com o dinheiro do trabalhador, o mesmo dinheiro que ela agora – em nome do crescimento – vai meter a mão.
E como alegria de pobre dura pouco, mais cedo ou mais tarde, o trabalhador, endividado, vai perceber que entrou, mais uma vez, no conto do vigário para melhorar o ranking dos bancos brasileiros, os mais lucrativos do mundo.
A teoria de Cals de que tudo em Brasília se faz no improviso continua valendo. Infelizmente, para desespero dos brasileiros.
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário