domingo, 15 de maio de 2016

NEM COR NEM GÊNERO

No texto deste domingo, Mary Zaidan toca em dois pontos que fazem parte do enredo petralha que visa atrair para sua teia grupos específicos, uns com dinheiro, outros com discurso populista.

Quanta besteira certo tipo de argumento! Falta do que fazer. De que adianta fazer tipo com mulheres, pobres, negros, seja quem for, e depois jogar na cara, como fez Lula com Joaquim Barbosa?


Se o estímulo ao confronto entre os diferentes já é deplorável, vale também a reflexão sobre quem reivindica privilégios, no caso os artistas acostumados a receber milhões que faltam nas escolas, nos hospitais, etc.

"...Ao fazê-lo, diminuem o valor da cultura, igualando-se aos que reivindicam privilégios. Não se diferem em nada daqueles políticos condenáveis que, acima de tudo, querem manter regalias para si ou para o segmento que representam."


Dilma e Temer (Foto: Divulgação)

Há pouco mais de uma semana vieram à tona as negociações do então vice e agora presidente em exercício para formar o governo, dando conta de barganhas ao estilo toma-lá-dá-cá, tão usuais na política brasileira. Para abrigar aliados, Michel Temer teria de ceder na ideia de reduzir pastas. Teria de fazer mais do mesmo. Não foi o que se viu: anunciou uma equipe menos obesa, com 23 ministros. Mas, em vez de elogios, tomou uma saraivada de críticas pela ausência de mulheres no primeiro escalão – como se governo fosse questão de gênero -- e por fundir os ministérios da Educação e Cultura.

Grossa bobagem. Não de Temer, mas dos que esperneiam.

É deplorável que artistas do porte de Caetano Veloso, Gilberto Gil, Chico Buarque e outros tantos avalizem a sandice de que sem um ministério próprio o Brasil “fechará as cortinas de um grandioso palco aberto para o mundo”, como, dramaticamente, afirmam na carta aberta enviada a Temer.

Na missiva, dizem que a economia a ser feita com a fusão é pífia – como se não fosse obrigatório poupar cada tostão – e que o setor merece, por sua importância, excepcionalidade. Ao fazê-lo, diminuem o valor da cultura, igualando-se aos que reivindicam privilégios. Não se diferem em nada daqueles políticos condenáveis que, acima de tudo, querem manter regalias para si ou para o segmento que representam.

Triste país este em que seus artistas creem que cultura depende de ter ou não um Ministério.

Acusado de machista, de manter em casa uma linda primeira-dama “recatada e do lar”, Temer cometeu o pecado de não incluir uma mulher no primeiro escalão. Até desejou levar a deputada Mara Gabrilli (PSDB-SP), mas acabou extinguindo a pasta pensada para ela.

Foi execrado nas redes sociais e pelos movimentos de mulheres que hierarquizam o gênero antes da competência. E que têm como ícone a presidente afastada Dilma Rousseff, que adora atribuir parte de seus problemas a uma ilusória discriminação sexista.

Sem demora, Dilma aproveitou-se de sua condição de mulher para espinafrar Temer. Na entrevista à imprensa internacional, repetiu a ladainha da ilegitimidade do novo governo e lamentou a ausência de mulheres e negros no time que passou a comandar o país.

É claro que não contou aos jornalistas que o seu governo também não tinha um único negro, mesmo quando ostentava 39 ministérios. Algo que não tem importância alguma, não fosse o fato de ela reclamar da pele de quem a sucede sem olhar o próprio umbigo.

Ter ou não negros, amarelos, católicos, judeus ou evangélicos nada garante. As exigências sabidamente são outras.

Lula teve Benedita da Silva, mulher, negra e evangélica. Durou pouco mais de um ano. Foi afastada depois de ser flagrada usando dinheiro público para custeio pessoal em um evento de sua crença, na Argentina. E teve homens brancos que acabaram atrás das grades, condenados pelo mensalão.

Teve oito ministros em dívida com a Justiça, mesmo número de ministros investigados de Temer, muito aquém dos 21 enrolados do grupo de Dilma, uma equipe que figura como a pior que já se viu.

Além da presidente, o governo Dilma também tinha mulheres. E isso não se refletiu em êxito. E sua derrocada veio pela incompetência gerencial, inabilidade política e soberba, não pelo fato de ela ser mulher. O país sabe disso e ela finge não saber.

Quem insiste na representação por gênero, cor ou credo, o faz por ignorância, desonestidade intelectual ou má-fé. Ou por tudo isso.

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