Uma ampla gama de “influenciadores digitais” de esquerda, moradores de todas as partes do país, que passaram a elogiar o governador do Piauí e candidato à reeleição, Wellington Dias (PT), foi o estopim para a divulgação de um amplo esquema de compra de apoio na Internet – o que é ilegal durante o período eleitoral – para candidatos petistas.
O esquema foi denunciado originalmente pela conta “Votem Lula Haddad” e a denúncia foi amplificada por centenas de mensagens publicadas nas últimas horas no Twitter. De acordo com a denunciante original, o esquema determinava que os contratados deveriam “manter sigilo sobre a ação” e começou com mensagens em favor de Gleisi Hoffmann (presidente do PT, deputada federal e candidata à reeleição pelo PT/PR), Luiz Marinho (candidato do PT ao governo do Estado de São Paulo) e, posteriormente, Wellington Dias (governador do Piauí e candidato à reeleição pelo PT).
O gerenciamento do esquema era feito pela Agência Lajoy, empresa que se diz especializada em trabalhar com “influenciadores digitais”, controlada pela petista Joyce Falete, de Belo Horizonte – MG, ex-consultora de Internet da Rede Globo de Televisão.
Perfis de Joyce Falete nas redes sociais: apoiadora de Lula trabalha como “agente de influenciadores digitais” há 8 anos, inclusive no período em que trabalhou como consultora da Rede Globo de Televisão. A empresa responsável pelo contato com os “influenciadores digitais” era a “vBuilders Studio”, criada por Luis Felipe Veloso de Lima, ex-funcionário do governo do Estado de Minas Gerais (controlado pelo governador e candidato à reeleição Fernando Pimentel, também do PT). Luis apagou a informação do seu perfil, mas a cache do Linkedin e do Google demoram mais tempo para atualizar.
O contato era feito por uma funcionária da vBuilders Studio, Isabella Bomtempo, e os termos eram claros: os influenciadores deveriam fazer “militância política para a esquerda”, “ativismo para partidos de esquerda como o PT”, tudo isso “sem sinalizar ser uma ação política”. Os exemplos de pautas incluíam “falar sobre o governo golpista”, “falar sobre a candidatura de Lula”, “falar sobre como as mulheres são pouco representadas na política” e “falar como a direita não apoia os LGBTs”. A mensagem ainda salientava que a ação “não é crime” (algo discutível de acordo com a lei eleitoral) e que a verba era de “R$ 1.500,00 por mês para a entrega de 1 conteúdo por dia publicado na sua rede social mais relevante”.
Os influenciadores que aceitavam participar do esquema eram convidados a fazer o download dos aplicativos “Follow” (posteriormente renomeado para FollowNow) e “O Brasil Feliz de Novo” (nome parecido com a denominação da coligação do PT que apresentou a candidatura à Presidência da República: “O Povo Feliz de Novo”). O segundo aplicativo deixa claro o intuito do uso: “Em tempos de fakenews (sic), você precisa saber em quem confiar. Comprometidos com um processo eleitoral responsável e consciente, o Partido dos Trabalhadores criou o Brasil Feliz de Novo, um aplicativo de compartilhamento de conteúdos diversos vinculados a algumas das nossas pré-campanhas. Aqui você encontra as principais notícias sobre a atualidade e o cenário político do Brasil. Compartilhamos também conteúdos relacionados com nossas lutas e propostas de campanha.”
Outra forma de divulgação do aplicativo era feita por meio das redes sociais, incluindo o Whatsapp, sempre com o mesmo mote: convidar os interessados a baixar os aplicativos “FollowNow” e “O Brasil Feliz de Novo” para se tornar um “ativista digital”. Para deixar ainda mais claro o teor do segundo aplicativo, a página do app no Facebook tem a foto de Lula no perfil e na capa. O número para confirmar a participação no esquema é de Minas Gerais (DDD 31).
O registro do aplicativo FollowNow, entretanto, é que guarda a ligação mais importante do esquema com um político do PT. De acordo com a página do aplicativo no Facebook, o e-mail do administrador do aplicativo remete a uma outra empresa, a “formulatech.com.br”. Consultando o registro do domínio, vemos que a empresa se chama “Formula Planejamento e Análise de Mercado Ltda EPP”, tendo sido registrada sob o CNPJ 20.758.048/0001-70.
Consultando o CNPJ da empresa que administra o aplicativo, descobrimos o sócio responsável pelo aplicativo, o coração de todo o esquema (e provável fonte do dinheiro destinado aos “influenciadores”: o deputado federal, ex-Secretário de Estado de Desenvolvimento Econômico, Ciência, Tecnologia e Ensino Superior de Minas Gerais (SEDECTES, onde trabalhou Luis Felipe Veloso de Lima, o criador da vBuilders Studio) e atualmente candidato ao Senado Federal pelo PT-MG, Miguel Corrêa da Silva Júnior. Ironicamente, o deputado federal petista também possui uma segunda empresa, no mesmo endereço da Formula, chamada… Follow!
Em outras palavras: por meio de uma rede de empresas que inclui uma ex-consultora da Rede Globo, um ex-funcionário da SEDECTES e as empresas do ex-secretário da SEDECTES, deputado federal do PT e atual candidato ao Senado pelo partido, Miguel Correa, “influenciadores digitais” foram contratados para fazer propaganda eleitoral paga nas redes sociais, o que é ilegal de acordo com a legislação eleitoral.
A Resolução 23.551/2017 do Tribunal Superior Eleitoral, que dispõe sobre propaganda eleitoral, utilização e geração do horário gratuito e condutas ilícitas em campanha eleitoral nas eleições, define, em seu Art. 24, que é “vedada a veiculação de qualquer tipo de propaganda eleitoral paga na internet, excetuado o impulsionamento de conteúdos, desde que identificado de forma inequívoca como tal e contratado exclusivamente por partidos políticos, coligações e candidatos e seus representantes”. Caso o caso vá a justiça, os políticos contratantes da rede e seus beneficiários podem inclusive ter o mandato cassado por abuso de poder econômico.
Finalmente, é importante registrar os perfis que aceitaram fazer a divulgação eleitoral ilegal em nome do PT. A lista é gigantesca, mas aqui temos alguns exemplos de perfis de esquerda que resolveram, “magicamente”, apoiar o governador do Estado do Piauí, Wellington Dias do PT, a terceira “campanha” do esquema.
Marcelo Faria (ILISP)
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