Os tesouros guardados na catedral de Notre-Dame, atingida por incêndio
BBC News
Alguns dos mais importantes para os cristãos são relíquias atribuídas a Jesus: a coroa de espinhos que acredita-se ter sido usada antes da crucificação; fragmentos de madeira da cruz; e um prego do Santo Sepulcro (templo cristão em Jerusalém onde, de acordo com esta fé, ocorreu a crucificação e ressurreição de Jesus Cristo).
A coroa - adquirida pelo rei Luís IX em 1238 e conservada na Notre-Dame desde 1806 -, assim como a túnica do próprio Luís IX, foi salva do incêndio, segundo o reitor da catedral, o padre Patrick Chauvet.
A Notre-Dame também tem relíquias da Santa Geneviève, padroeira de Paris, e de São Denis.
Monumento emblemático de Paris, visitado anualmente por 13 milhões de pessoas, a Notre-Dame é considerada uma obra-prima da arte gótica. Sua construção começou no século 12 e durou mais de 200 anos.
Não se sabe, até o momento, detalhes sobre mais itens que tenham sido
preservados ou destruídos pelo fogo.
"Os danos serão imensos", resumiu Emmanuel Grégoire, adjunto da prefeita de Paris, Anne Hidalgo.
As causas do incêndio, iniciado na parte superior da catedral, ainda não são conhecidas mas podem estar ligadas a obras de renovação no local. O fogo destruiu dois terços do telhado da Notre-Dame.
A fachada oeste (entrada principal), construída entre 1200 e 1250, e seus cinco portões são considerados um tesouro de arquitetura.
O impressionante portão esculpido com cenas do Juízo Final, na entrada, e decorado ainda com estátuas dos apóstolos, é o principal da catedral.
O órgão da catedral é outro tesouro. Há, na realidade, três. O mais importante é o grande órgão, do século 15, formado por mais de oito mil tubos e considerado um instrumento excepcional por sua potência e qualidade de som. Ele se situa na parte superior da catedral.
O grande órgão foi preservado na Revolução Francesa graças à interpretação de músicas patrióticas inspiradas no hino nacional.
A Notre-Dame reúne várias obras de arte com importância histórica.
É o caso de três vitrais em forma de rosácea, que segundo a direção da catedral representam uma das "maiores obras-primas do cristianismo". Eles foram feitos no século 13 e já foram reconstruídos e restaurados.
A chamada "rosa sul", em uma das laterais, tem quase 19 metros de altura e 13 metros de diâmetro - uma das maiores da Europa. São 84 painéis com cenas do Novo Testamento. Abaixo dessa rosácea, vitrais do século 19 ilustram 16 profetas.
Há ainda os vitrais do claustro e da nave (ala central) da catedral.
As famosas estátuas de gárgulas e quimeras na parte externa da catedral, representando animais fantásticos ou monstros, são consideradas símbolos da Notre-Dame. Elas foram feitas na Idade Média e têm a função estratégica de proteger as paredes do escoamento da água das chuvas.
O acervo da Notre-Dame reúne também inúmeros quadros dos séculos 17 e 18. Entre eles, os chamados Mays - produzidos quase anualmente por pintores renomados para celebrar a Virgem Maria.
Os Mays acabaram sendo dispersados durante a Revolução Francesa, mas os mais importantes deles foram recuperados e ornam as capelas da nave lateral.
Treze Mays eram rotineiramente expostos ao público na Notre-Dame, entre eles a Lapidação de Saint Etienne, do pintor Charles Le Brun. Segundo o reitor da catedral, quadros com grandes dimensões, como é o caso dos Mays, não puderam ser retirados durante o incêndio - mas não se sabe ainda se eles foram danificados.
Outros quadros famosos expostos na catedral incluem São Thomas de Aquino, Fonte de Sabedoria, do século 17, atribuído ao pintor Antoine Nicolas; e a tela A Visita, considerada uma obra-prima do século 18, de Jean Jouvenet.
Há ainda uma série de esculturas, como a de Nossa Senhora de Paris - transferida para Notre-Dame no século 19 e instalada no altar dedicado à Virgem que existe desde as origens da catedral.
A estrutura de madeira do telhado, onde o fogo começou, é considerada um "monumento dentro do monumento" dada a complexidade da construção realizada há centenas de anos. Parte dela data do século 13, e outra do século 19.
Também há na catedral um muro da Idade Média, onde foram esculpidas cenas atribuídas à vida de Jesus.
Sinos da igreja, sons da cidade
Os sinos também são considerados um importante tesouro da catedral e fazem parte da história de Paris. Há séculos, eles anunciam ou celebram eventos importantes na cidade - o mais antigo deles existe há três séculos.
São 13 sinos no total, com nomes de santos. Três estavam na torre que desabou no incêndio, a chamada "flecha", em forma de agulha.
Segundo o general Jean-Claude Gallet, comandante da brigada de bombeiros de Paris, as obras mais preciosas, situadas na parte de trás da catedral, foram retiradas. Ele não deu detalhes sobre as obras em questão.
Livros raros da Notre-Dame já haviam sido transferidos para a Biblioteca Nacional da França. Não se sabe ainda se documentos e publicações importantes foram destruídos no incêndio.
O presidente francês, Emmanuel Macron, declarou que a Notre-Dame será reconstruída e que "o pior foi evitado."
A Fundação para o Patrimônio, uma organização privada, lançou uma campanha nacional para angariar fundos para a reconstrução.
A estrutura de madeira que sustentava o telhado da catedral havia sido renovada há cerca de cinco anos. A Notre-Dame possui um sistema de alerta de incêndio, com detectores de fumaça conectados a um painel eletrônico e agentes especializados no combate ao fogo.
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