Impossível desconsiderar uma reflexão sobre a premiação de um filme brasileiro, obra de um ultra milionário da elite financeira e do também demonizado setor da mineração, aclamado no país dos "imperialistas".
Não desmereço nenhuma vitória da FICÇÃO nem invejo o sucesso do banqueiro, como fazem os esquerdistas sempre atacando a tal elite que, na verdade, banca suas campanhas e garante seu projeto de VINGANÇA e PODER. Porém, no regime do pão e circo, clamo por compaixão às vítimas do MUNDO REAL que não assaltaram bancos, não sequestraram, não aplicaram "justiçamento" contra companheiros, não exterminaram opositores e jamais participaram de golpes como o da LUTA ARMADA...ah, esses foram anistiados e estão há décadas no comando do país.
Quanto às críticas, são compreensíveis, porém tenho a convicção de que, assim como é meu caso, todos os brasileiros gostariam muito de celebrar. O freio moral que anula qualquer empolgação do cidadão consciente é que, por motivos óbvios, ao fazer isso nos tornamos cúmplices dos verdadeiros propósitos que os envolvidos na trama declaram abertamente para o mundo ouvir, o de servir a um projeto de vingança eterna contra seus algozes e contra as vítimas de um modelo de repressão semelhante ao que viveram, com a diferença lógica de que os reprimidos de agora não são criminosos.
O rancor de celebridades e artistas fez perder apoio, torcida e admiração. O seu ódio proclamado aos quatro ventos contra inocentes que tiveram suas vidas destruídas apenas por suas escolhas e opiniões revela hipocrisia quando usam a comoção pra idolatrar figuras da LUTA ARMADA que praticaram horrores que justificaram a prisão e o exílio, não os excessos, como tortura e coisas piores, como também estão sofrendo os manifestantes do oito de janeiro com o apoio dessa gente raivosa que clama "sem anistia" e tem a cumplicidade do pessoal do filme. O êxtase quando defendem o EXTERMINIO de quem repudia a tirania e a corrupção tentando carimbar rótulos a fim de justificar sua cumplicidade com a MALDADE deixa claro que não querem justiça, mas sim VINGANÇA.
Mais uma vez, a questão não é o filme, mas o fato de ser USADO como peça de propaganda de um regime que está calando, banindo, encarcerando e destruindo a vida (alguns literalmente) de quem discorda do projeto corrupto de vingança e poder.
Para concluir, reescrevo o brilhante texto do economista Adolfo Sachida sobre o filme e a premiação, alertando uma outra injustiça que poderíamos resolver enquanto há sobreviventes e sem esperar 40 anos para libertar inocentes e aliviar o sofrimento de órfãos de pais vivos e de viúvas e viúvos de cônjuges que ainda estão aqui. “Fernanda, nós abaixo assinados, pedidos que nas suas entrevistas corrija uma grave omissão do seu discurso de recipiente, o de alertar o mundo que a mesma coisa está ocorrendo conosco nesse momento.
Eu sou a viúva de Clezao, preso injustamente e morto na Papuda. Meu marido morreu como o seu, e você simplesmente o ignorou.
Mas eu ainda estou aqui como você.
Eu sou Débora, cabeleireira e mãe de dois filhos, que escreveu "Perdeu, Mané" com batom em uma estátua e fui condenada a 17 anos de prisão.
Eu também ainda estou aqui.
Eu também ainda estou aqui.
Eu sou o vendedor de algodão doce, que estava na Esplanada dos Ministérios trabalhando no dia 8 de janeiro e fui preso por engano.
Eu também ainda estou aqui.
Eu sou o morador de rua que pedia comida e também fui preso injustamente.
Eu também ainda estou aqui.
Eu sou o autista que trabalha em um lixão e que, por estar presente no dia 8 de janeiro, sou obrigado a usar tornozeleira eletrônica.
Eu sou Felipe Martins, preso injustamente por seis meses por uma viagem que nuncafiz (e que, mesmo se tivesse feito, não seria crime).
Eu sou a mãe de seis filhos e esposa de um caminhoneiro que viajou a Brasília para entregar mercadorias. Enquanto esperava o caminhão ser carregado, meu marido foi à Esplanada e hoje está condenado a mais de 15 anos de cadeia.
Nós ainda estamos aqui.
Eu sou uma menina de 3 anos. Eu sou um menino de 6. Somos crianças órfãs de pais vivos. Nossos pais nunca pegaram em armas, nunca cometeram crime algum, mas hoje estão condenados a mais de 15 anos de prisão.
Eu sou um brasileiro comum, que vê a classe artística e os jornalistas serem TIGRÃO com uma ditadura que acabou há 40 anos, mas TCHUTCHUCA diante dos desmandos que acontecem hoje no Brasil.
Eu sou um advogado, chocado com o silêncio ensurdecedor da OAB diante de tantos absurdos jurídicos, condenações e penas desproporcionais.
Eu sou um brasileiro comum, que hoje tem medo de escrever um texto na internet criticando uma autoridade pública, temendo ser preso por crimes que não existem.
Todos nós ainda estamos aqui.
Corrija essa falha solidária e do bem que você é. Não continue nos ignorando.”
Parabéns Adolfo Sachida por lembrar essa verdade. A(i)lógica dos perdoados que não perdoam alimenta o clima de hostilidade em nosso país e a vingança eterna contra quem nada tem a ver com a colheita de quem semeou o terror.
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